Faz um bom tempo que não coloco
receitas da vovó Neném aqui no blog. Há quase um ano ela nos deixou e ainda dói bastante tentar reproduzir alguma delícia da minha musa inspiradora.
Apesar da alegria de ter passado 39 anos ao lado dela, ficar longe, não poder dar um beijo, um abraço e nem ver o seu sorriso são detalhes que ainda mexem muito comigo.
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Saudade eterna da minha amada vovó Neném! |
Sei que não tenho do que reclamar. Deus sempre foi muito bom para mim e para a vovó. Afinal, quem não sonha em viver com alegria, força e saúde até os 100?
Vovó Neném soprou com vontade a vela do centenário e decidiu que já estava bom para ela. Essa caminhada terrena tinha chegado ao fim. E foi no tempo certo.
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Vovó Neném tinha orgulho de ser velha. Amava viver. Dizia que quem não fica velho é porque morreu antes do tempo. |
Não lamento, mas ainda me emociono ao pensar que esse contato físico já não existe mais. Mas tudo bem. A energia dela, que sempre me motivou, continua a impulsionar minha essa minha vida de cozinheiro.
É num
feijão mais grossinho, numa couve picada bem fininha, num
angu de fubá, no quiabo fritinho (e sem baba), no
pudim cor-de-rosa e até na bebida do brinde: Malzbier, da Brahma, estupidamente gelada.
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Essa foi a última vez que estive com a vovó Neném, no carnaval de 2018. Foi um encontro emocionante. Ainda lembro dela me acalmando e dizendo que estava tranquila e feliz. |
E é assim que vou levando a vovó comigo. O "efeito Neném" está na alegria da minha cozinha, na variedade exagerada de complementos do almoço e nas comidas caseiras que faço. Tudo feito com muito carinho, tentando ser do jeito que só ela sabia fazer.
Quitutes incomparáveis, igual a bolinha de carne cozida e frita. A almôndega da vovó era o prato preferido do meu querido tio Tadeu e da
minha mãe. E eu também gosto bastante.
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Essa bolinha de carne aqui em casa é o melhor dos almoços de domingo. |
Claro, se tiver que votar, ainda fico com o arroz de forno e com o feijão tropeiro. Ainda assim, não tenho como negar: a preparação desses deliciosos bolinhos cozidos e fritos na gordura é a lembrança mais viva que tenho da dona Neném na beira do fogão.
Arrisco dizer que o prato ganha até da tradicional feijoada. E é por isso que a preciosidade de hoje não poderia ser outra: almôndegas da vovó Neném. Feitas pela melhor pessoa para cumprir essa difícil tarefa: minha amada mãe.
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Mamãe reproduziu com perfeição a receita de almôndega da vovó Neném. |
E olha que ela fez bonito. “Donana” não é muito de cozinhar não mas, quando decide colocar a mão na massa, não tem pra ninguém.
Para completar a alegria, da comilança e de ver minha mãe executando com maestria um prato da vovó, a dona Ana ainda contou com a ajuda da minha amada sogra. A dona Maria estava doida para aprender a receita e minha mãe decidiu ensiná-la.
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Deus me deu um amor e uma segunda família inteira. Agora eu tenho duas mães: minha amada dona Ana e a dona Maria, minha sogrinha do coração. |
E eu aproveitei essa oportunidade ímpar para mostrar o passo a passo da receita para você. Para fazer 22 almôndegas da vovó Neném de tamanho médio você vai precisar:
. 750 gramas de carne moída
. 250 gramas de toucinho moído
. sal
. limão
. molho de pimenta
. óleo
. água
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Vovó Neném não fazia almôndegas muito pequenas. Ela dizia que o tamanho maior deixava as bolinhas mais suculentas. |
Para a carne mamãe sempre usa chã de dentro, que aqui em Brasília minha sogra conhece por coxão mole. Mas acredito que com
qualquer corte pode ficar bom, da picanha à paleta. Tudo vai depender do seu bolso e da melhor peça disponível no açougue.
Só não dá para substituir o toucinho por outro ingrediente. Para a almôndega ficar suculenta é imprescindível essa combinação de carne e gordura.
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Chã de dentro moído juntamente com toucinho. Esse é o segredo da almôndega da vovó. |
Esse detalhe é tão importante que a mamãe, para garantir a mistura ideal, pede ao açougueiro para moer o toucinho junto com a carne. E não é só isso: esse blend é moído duas vezes.
Nem sei se uma segunda passagem pelo moedor faz tanta diferença assim. Mas era o que a vovó Neném fazia. E é do jeito que a mamãe faz. E fica perfeito.
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Limão do pomar da mamãe dá um toque todo especial à receita da vovó. |
Com a carne já moída, tempere-a com sal e suco de um limão. Mamãe também acrescenta molho de pimenta malagueta. Confesso que isso eu não lembro da minha vó fazer assim.
Acho que o molho apimentado na massa da almôndega é uma invenção da dona Ana, que é apaixonada pelo sabor marcante do fruto vermelho. Eu não gosto de pimenta mas a quantidade que a mamãe usou não me incomodou.
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A pitada de molho de pimenta não roubou o sabor da almôndega. Pelo contrário: realçou o sabor da mistura de carnes. |
O mais curioso da perfeição desse tempero é que a dona Ana não come carne crua de jeito nenhum. Mamãe faz tudo no "olhômetro". E não prova depois para saber se ficou bom. Não sei como ela consegue acertar sempre.
Eu já sou o contrário. Adoro carne crua e vou provando a massa enquanto cozinho. E me divirto fazendo os testes. Não sei como é aí na sua vida de cozinheiro. Mas imagino que você também queira deixar a mistura bem saborosa, né? E aí,
vale até colocar ervas aromáticas.
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A tradicional almôndega da vovó Neném é assim: sem verdinho nenhum na carne. Só sal, limão e pimenta. |
Aqui em casa não usamos nada além de sal e limão porque somos fiéis ao legado da dona Neném. A pimenta, única exceção, entra na cota da adaptação criativa feita pela mamãe.
Com a massa devidamente temperada e as mãos limpas, pegue um pouco de carne e a amasse até ficar bem firme. Enrole as almôndegas e coloque-as para cozinhar numa panela bem grande com óleo e água.
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Dona Ana se divertindo fazendo as bolinhas de carne da vovó Neném. |
Para a mistura não grudar, esfregue um pouco de óleo de cozinha na mão.
Aqui em casa eu só uso óleo de amendoim ou de girassol.
Ah, faltou falar do óleo. Para as almôndegas ficarem perfeitamente cozidas existem dois segredos. O primeiro é usar uma panela bem grande para que as bolinhas não grudem umas nas outras. A outra dica é juntar 500 ml de água filtrada ao óleo ainda frio.
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A água vai ajudar a cozinhar por inteiro as almôndegas. |
Sei que parece estranho mas é isso mesmo. Coloque o óleo até a metade da panela e complete o líquido com água em temperatura ambiente. Feito isso, é só esperar a carne ficar pronta. E o processo é bem simples. Enquanto tiver água no óleo as almondegas vão cozinhar.
Nessa panela da vovó, que é bem grande, conseguimos fazer as 22 bolinhas juntas. É só ir colocando uma de cada vez e, com a ajuda da colher, ir virando as almôndegas com cuidado. Isso vai fazer com que a carne fique firme e as bolinhas não desmanchem. Mas não mexa muito, senão você vai acabar desfazendo a almôndega.
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Almôndegas cozinhando na mistura de água e óleo. |
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A almôndega ainda não está no ponto certo. Muito "branquinha". Só fique atento para não deixar cozinhar demais. |
As almôndegas vão começar a dourar quando a água secar. Aí é só esperar um pouco até as bolinhas pegarem uma cor. Com as almôndegas douradas, tire-as da panela. Aqui em casa a gente só espreme a almôndega na lateral da panela para eliminar o excesso do óleo. Nem precisa de papel toalha.
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Até a cor do óleo muda quando a água seca. Almôndegas prontas e eu já doida pra prová-las. |
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Almôndegas da vovó Neném feitas pela mamãe. Adoro! |
Dá para acreditar que é só isso? Pois é, com pouquíssimos (e baratos) ingredientes fazemos uma entrada ou prato principal dos deuses. Lembrando que as almôndegas da vovó Neném feitas pela mamãe vão bem com tudo:
pão caseiro, farinha de mandioca,
molho de tomate,
salada de batata e até com
arroz e
feijão. Pra mim, vai bem com tudo. E o melhor: faz bem pra alma.
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Receita muito deliciosa Receitas da vovo Maria
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