Comer sem saber o que está provando. Mastigar com calma, sentindo a textura do alimento e tentar identificar cada ingrediente. A ideia do projeto "A Panela", do chef Zito Cavalcante, é simples. Mas a experiência gastronômica pode ser mais reveladora do que se imagina.
Para começar, você só recebe o endereço do local do jantar poucas horas antes do banquete. O seu lugar à mesa também não é escolhido por você. E as regras de etiqueta são ignoradas: é você quem define os talheres usados durante o roteiro culinário proposto pelo chef.
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Talheres bagunçados para indicar que você pode comer como quiser. |
Os dois primeiros pratos foram servidos juntamente com a Champagne Goddess, de uva branca, da Läut of Box. Depois provamos uma cerveja artesanal com cada prato, nessa ordem: Vienna Lager (Küd), Café Lager (Ouropretana), Session Ipa (Inspetor Sands), Ginger Ipa (Ouropretana), Coffee Brown Ale (Experimento Beer + Koala San Brew) e Double Black Ipa (Küd).
E nem precisa ser cozinheiro para curtir o desafio. O menu secreto, que vai se revelando a cada garfada (ou colherada, se preferir), traz à tona sentimentos fundamentais para a apreciação de qualquer comida: surpresa e intimidade (ou a falta dela). Um jogo no qual adivinhar os ingredientes não é a melhor parte e nem faz do comensal o vencedor.
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Participando do jantar de encerramento do "A Panela". |
Claro, a falta de controle não é total. Tudo foi cuidadosamente pensado por um cozinheiro talentoso e apaixonado. Além de chef, Zito Cavalcante é sommelier de cerveja, o que faz dele o profissional perfeito para montar esse jantar harmonizado. Uma ideia que Zito resgatou da década de 20, durante o período da lei seca norte-americana.
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Com o chef Zito Cavalcante, criador do "A Panela" e minha querida irmã cervejeira, Fabiana Bontempo. |
"A Panela" é uma releitura desse movimento. O projeto, dividido em oito temporadas, foi destaque da gastronomia mineira nos últimos 5 anos. E essa semana chegou ao fim. Foram 8 temporadas, 153 jantares harmonizados, 7.344 pratos e 1.836 clientes satisfeitos.
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O maridão adorou a dobradinha "comida boa e cervejas artesanais. |
Pratos simples e de sabores complexos, levados à mesa num crescente de texturas e sabores de abalar as estruturas de qualquer mineiro, tradicionalmente, conservador. Começamos com um cheesecake de capim limão com farofa de biscoito Cream Cracker e crocante de panceta defumada.
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Cheesecake de capim limão do projeto "A Panela", do chef Zito Cavalcante. |
A terceira preparação uniu duas regiões brasileiras: norte e sudeste. O ravióli de linguiça de porco com queijo canastra no caldo de tucupi estava simplesmente sensacional. A massa do ravióli era de "ora pro nobis". A plantinha símbolo da mineiridade casou bem não só com o famoso queijo das Gerais. Formou ótima dupla com o sumo extraído da raiz da mandioca brava, bastante apreciado em terras amazônicas.
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Ravióli de linguiça de porco com queijo canastra do projeto "A Panela", do chef Zito Cavalcante. |
Em BH fez o curso da Academia Sommelier de Cerveja e se tornou consultor das mais importantes casas cervejeiras da capital. Na casa da sogra começou a fazer jantares, inicialmente para 10 pessoas. A ideia deu tão certo que ganhou novos ares e sabores. E "A Panela" foi criada.
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A vela é peça fundamental do cenário desse rústico e sofisticado jantar do "A Panela". |
Fez parceria com os melhores mestres cervejeiros das Gerais, dentre eles minha querida irmã (quanto orgulho!) e passou a construir obras de arte em forma de jantares inusitados.
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A mestre cervejeira Fabiana Bontempo também foi parceira do projeto "A Panela", do chef Zito Cavalcante. |
O popular salgadinho, empanado na farinha de mandioca, foi servido em cima de um purê de requeijão com mexerica. Pela ordem do que saia da cozinha esse era um prato principal. E eu adorei saborear uma coxinha como refeição.
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Coxinha refinada do projeto "A Panela", do chef Zito Cavalcante. |
Depois veio uma releitura mineira do tradicional acarajé. O "Tropeiro Baiano" juntou vinagrete de tomate verde, quiabo, feijão de corda e linguiça. Foi o prato que o maridão mais gostou. Confesso que eu já estava sonhando com a sobremesa.
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Tropeiro baiano, releitura do famoso acarajé, do projeto "A Panela". |
O beijinho com coco defumado temperado com cumaru da Amazônia fechou os trabalhos. Algumas dessas iguarias eu identifiquei na primeira garfada. Outras tive que provar vários pedaços para descobrir e algumas eu só fiquei sabendo quando o Zito disse o que tinha saído do quintal para a panela.
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Fraldinha cozida e purê de abóbora assada do projeto "A Panela", do chef Zito Cavalcante. |
E o "mirabolante" dessa bela história culinária foi trazer para a mesa os ingredientes do campo, da maneira mais simples possível. Todos os cúmplices do "A Panela" participaram de uma peça fechada. E estiveram à vontade para gostar ou não da experiência. Nessa última edição, o Zito disse que a cozinha estava em festa. E nós também.
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Com o maridão, o jornalista Thiago Inter, no jantar de encerramento do projeto "A Panela". |
Com o encerramento do "A Panela" um ciclo se fecha, mas o espetáculo que Zito Cavalcante gentilmente oferece aos comensais continua. E só nos resta aguardar o próximo show.
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