Semana passada me deu uma saudade da minha viagem ao norte do Brasil e uma vontade imensa de comer o hambúrguer de joelho de porco da Cachaçaria do Dedé. O desejo virou matéria. Ao escrevê-la acabei lembrando que 28 de maio é, oficialmente, Dia Mundial do Hambúrguer.
O prato da maneira que conhecemos hoje é originário de Hamburgo, na Alemanha, e foi produzido pela primeira vez no século XVII. Mas a história do hambúrguer não começa nos idos de 1600. O hambúrguer, bem como o chucrute (citado no post anterior), também é uma contribuição gastronômica do temido exército de Genghis Khan.
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Pintura mostrando a extensão do exército Mongol. Ilustração de William H. Bond / NationalGeographic.com |
Foi o que aconteceu durante a invasão da Europa pelos Tártaros, uma das mais importantes tribos Mongóis. Essa maneira de consumir a carne “pilada” foi aprendida pelos moradores do "Velho Mundo" e acabou se tornando um hábito, "dando forma" à história do hambúrguer.
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Culinária Mongol do século XIV. Ilustração de Rachid ad-Din / akg-images / VISIOARS / Biblioteca Nacional de Paris. |
A “novidade”, agora devidamente temperada, era saborosa e barata. Por isso, os “bifes de carne moída” se popularizaram rapidamente em Hamburgo. Mas as bolas de carne ainda eram comidas puras, não havia um pão que as envolvesse.
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Imigrantes alemães, judeus, irlandeses e russos em East Side, New York, no final do século XIX. Foto: Messynessychic.com |
Por isso também não é por acaso que foi um restaurante de Nova York, o Del Monico’s, o primeiro, de acordo com os historiadores, a incluir o “Hamburger Sandwich” em seu cardápio, em 1836.
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Fachada do restaurante Del Monico's, New York, em 1836. Foto: PDF Delmonico's: A Century of Splendor. |
Os americanos, portanto, não inventaram o ícone que hoje os define. Mas essa associação do hambúrguer aos norte-americanos não é injusta. Afinal foram eles que tiveram a ideia de colocar o bife grelhado no meio do pão, dando cara ao sanduíche mais consumido nos Estados Unidos e apreciado em todo o mundo.
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Hambúrguer artesanal do Singelo Burguer, em Taguatinga, no Distrito Federal: Foto: Singelo Burguer / divulgação. |
Assim, juntamente com o "American Dream", o trabalhador tinha (e tem até hoje) que engolir a seco formas de otimizar minutos e segundos. Nesse sentido, um lanche rápido, nutritivo, prático de preparar e facilmente degustado com as mãos era tudo o que esse americano precisava para enfrentar a dura rotina de trabalho da era industrial.
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"Louis' Lunch" no início do século XX. Foto: "Louis' Lunch" / divulgação. |
Bem, nem vou discutir o caráter “nutritivo” do sanduíche nesse post. Provavelmente o hambúrguer americano produzido no final do século XIX era de fato saudável. Talvez nada que pudéssemos chamar de "uma refeição completa", mas uma comida "comível" (apesar do pão branco), sem tanta gordura, carne processada, corantes ou conservantes.
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Primeira loja da franquia White Castle inaugurada no Kansas em 1921. Foto: White Castle / divulgação. |
A ideia prosperou e vários outros restaurantes tendo o sanduíche como estrela principal surgiram em todo o país nos anos seguintes. Em 1931 o hambúrguer já era tão popular que até conquistou os quadrinhos. O Wimpy, o melhor amigo do Popeye (que nós conhecemos por Dudu), tinha uma fome incontrolável e desmedida por hambúrguer.
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Tirinha produzida em 1931 na qual o Wimpy (ou Dudu) diz pela primeira vez a sua famosa frase. Foto: Popeye.com |
Em 1937 os irmãos Dick e Maurice McDonald consolidaram essa lógica do mercado de hambúrguer. Com a inauguração do primeiro McDonald's, um pequeno drive-in na cidade de San Bernardino, na Califórnia, a receita oficialmente deixou de ser caseira e ganhou proporção industrial.
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Primeira loja McDonald's da franquia, inaugurada em San Bernardino, na Califórnia, em 1937. Foto: Thomas Hawk / Flickr / Creative Commons. |
Com a consolidação da marca "McDonald's" hambúrguer virou sinônimo de comida americana. Rapidamente o lanche se tornou unanimidade entre os cidadãos da "Terra do Tio Sam" e depois da Segunda Guerra Mundial, finalizada em 1945, o sanduíche de pão, carne, queijo, molho especial e salada conquistou o mundo.
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"Double Hamburger", obra de Andy Warhol feita em 1986. |
A Sétima Arte também pegou carona na aura de sedução do ícone americano. Nas últimas décadas foram produzidos diversos filmes sobre o tema como "A Guerra do Hambúrguer" (1997), "Madrugada Muito Louca"(2004), "Nação Fast Food" (2006), "Tá Chovendo Hambúrguer" (2009) e "Fome de Poder" (2016).
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"Millennium Falcon", o hamburgão criado por George Lucas em 1977. Foto: Starswars.fandom.com |
Aproveitando a licença poética até a eletrônica se rendeu ao lanche. No início da década de 80 o jogo BurgerTime, produzido e desenvolvido pela indústria japonesa Data East, virou febre entre os adolescentes americanos. No BurgerTime o jogador é o cozinheiro que monta os hambúrgueres enquanto escapa de comidas animadas. O jogo foi relançado para diversas plataformas: Atari 2600, Game Boy e PlayStation.
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"BurgerTime", jogo desenvolvido pela japonesa Data East em 1982. Foto: reprodução internet. |
A estátua homenageia o vendedor de almôndegas Charlie Nagreen que, de acordo com a cultura local, foi o inventor do hambúrguer, tendo sido o primeiro a colocar o bife de carne moída dentro de um pão durante uma festa na cidade em 1885. A história nunca foi comprovada. Ainda assim o festival anual de hambúrguer de Seymour é um grande evento americano.
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Estátua de Charlie Nagreen em homenagem ao inventor do hambúrguer, localizada na praça central de Seymour. Foto: Homeofthehamburguer.org |
Se você é leitor desse blog sabe que nessa minha vida de cozinheiro só existe hambúrguer artesanal. Já fiz, inclusive, matérias dizendo que não considero comida os hambúrgueres congelados e o fast-food vendido no McDonald’s. Sou e serei sempre uma defensora da comida de verdade.
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Obra "Death by Hamburger", de David LaChapelle, produzida em 2001. Foto: Artsy.net |
A casa fica em Taguatinga, bem pertinho da minha kitnet, e é a melhor hamburgueria do Distrito Federal. Vira e mexe eu estou lá saboreando sempre o mesmo hambúrguer: o clássico. O exemplar, produzido com todo o cuidado e carinho pela equipe da Singelo Burguer, é o melhor que já comi em toda a minha Vida de Cozinheiro!
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Pão australiano, burger angus 150g, cheddar, cebola caramelizada, bacon e maionese da casa. Para mim, o melhor do Singelo Burguer. Foto: Singelo Burguer / divulgação. |
Foto da Capa: Singelo Burguer / divulgação.
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Fantastico Artigo, muito rico em notas e referências importantes... Parabéns, Chef Mari Bontempo !!
ResponderExcluirMuito obrigada, amigo querido! Sua opinião é muito importante para mim. Grande abraço!
ExcluirFicou ótimo o post! Amei saber toda essa história sobre o hambúrguer. E adoraria provar o lanche do Singelo Burguer, deve ser muito bom mesmo! =)
ResponderExcluirEi, Tiago! Tudo bem? Muito obrigada pelo elogio! Fico feliz em saber que você gostou da matéria. Muito obrigada também por sua audiência. O hambúrguer do Singelo Burguer é realmente muito bom! Não sei onde você mora mas, quando estiver em Brasília, vale a pena dar um pulinho em Taguatinga para provar o sanduíche deles. Grande abraço!
ResponderExcluirSensacional. Excelente post. Parabéns.
ResponderExcluirEi, Leonardo. Tudo bem? Muito obrigada pelo elogio e por sua audiência. Grande abraço!
ExcluirParabéns... conteúdo no capricho! Vou inclusive cita-lo num post que estou preparando para a hamburgueria O Legado Artesanal, do meu amigo Bruno. Sucesso Mari!
ResponderExcluirEi, Ariel. Tudo bem? Muito obrigada pelo elogio e por sua audiência. Fico feliz que você tenha gostado da minha pesquisa sobre hambúrguer. Onde fica a hamburgueria do seu amigo Bruno? Deu vontade de conhecer "O Legado Artesanal". Desejo sucesso ao empreendimento do Bruno. Abraço.
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