Quando postei essa foto lá no Instagram do Vida de Cozinheiro eu ainda estava no Japão. Na legenda, coloquei o título desse post: "provando o verdadeiro sushi japonês". Em pouco tempo fui respondida, via Facebook, por um leitor que também é cozinheiro profissional.
Ele me questionou em relação ao “verdadeiro” e disse que, enquanto sushiman, se sentia ofendido com o meu comentário. Segundo ele, qualquer um que aprendesse a técnica teria capacidade de executar o verdadeiro sushi japonês. Não discordo totalmente e, claro, não quis ofender. Mas quando, no calor da emoção, jantando numa das melhores casas de Nagoya, defini o sushi como “verdadeiro” foi para exaltar a ideia de "origem".
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Estar no Japão provando as delícias gastronômicas deles é uma experiência incrível! |
Descobri também que o arroz e a proteína do niguiri formam um bloco indivisível. O peixe ou camarão, colocado em cima do grão moldado, está literalmente grudado nele. Soltá-lo é a maior ofensa que você pode fazer ao sushiman.
Outra "gafe gigantesca" é molhar o arroz do sushi no líquido, principalmente ao comer niguiri. Nesse caso, só a carne deve entrar em contato com o shoyu. Pode parecer estranho pra nós mas os japoneses usam o gengibre para pincelar, delicadamente, o shoyu em cima do niguiri.
Outra maneira é inclinar o niguiri e encostar somente a lateral do peixe no tempero. Ninguém encharca a peça de sushi com molho, como fazemos no Brasil. Também não se dissolve wasabi no shoyu.
Aliás, a raiz forte é usada pelo sushiman e não pelo comensal. O peixe já vem "temperado" da cozinha. E o gengibre, além de servir de pincel, não está lá para decorar a mesa. Ele é usado para limpar o paladar e deve ser mastigado algumas vezes ao longo da refeição.
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Não separe a carne do arroz. É uma desfeita enorme ao sushiman. |
Outra maneira é inclinar o niguiri e encostar somente a lateral do peixe no tempero. Ninguém encharca a peça de sushi com molho, como fazemos no Brasil. Também não se dissolve wasabi no shoyu.
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O gengibre funciona como pincel e ainda limpa o paladar. |
Também aprendi que o sushi é uma preparação "indivisível" e não deve ser partido. A peça inteira precisa caber na boca! Por falar nisso, além da forma correta de segurar o hashi, existe o jeito indicado de usá-lo. Os palitinhos vão encostar no arroz e não no peixe.
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Para comer o maki você pode usar o hashi ou os dedos. Mas sempre pegue o maki encostando na alga, nunca no arroz. |
Falando nisso, o queridinho deles não é o sashimi de salmão, que só começou a fazer parte da gastronomia japonesa na década de 80, levado pelos noruegueses. Para os japoneses, a "grande estrela do mar" é o atum e o sushi mais saboroso é o feito da barriga do peixe. Eu provei a peça de "tuna fish" e não achei nada demais. Mas eu não gosto de atum, então não vale muito como referência, né?
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O sushiman do restaurante "Niguiri No Tokube", em Nagoya, preparou o meu atum na minha frente. achei o máximo! |
Os japoneses vão degustando os pescados mais leves primeiro. Só no final da refeição que os peixes gordurosos, como o atum, são comidos. E todos os pratos são degustados juntamente com um belo copo de chá verde.
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Adorei esse chá verde! Aliás, o gosto do chá verde servido no Japão é bem mais suave do que o que bebemos no Brasil. |
E por falar em estrutura, esse tipo de restaurante no qual os pratos de sushi passam pelas mesas e o cliente pega o que quiser (e depois vai os empilhando para mensurar o tamanho da fome e da conta) não é novidade no Japão.
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Não sei se foi pela facilidade ou pela explosão de sabores, mas acabei comendo bem mais do que o meu normal. |
Os pratos vão circulando pelo salão e, como dá para perceber pelas fotos, não se coloca queijo, morango, kiwi, cebolinha ou apetrechos bonitinhos nas peças de sushi. Comida japonesa servida no Japão, feita por japoneses e para japoneses, é algo bem diferente do que estamos acostumados.
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Os pratos do sushi japonês são mais enfeitados do que as peças de comida. |
Com o seu Suzuki entendi que sushi é uma manifestação artística e comê-lo é praticamente uma experiência sagrada que vem se mantendo igual há quase 300 anos. Tanto que essas regrinhas de como comer uma peça de sushi estão lá no site do famoso restaurante Sukiyabashi Jiro, o japonês três Estrelas Michelin de Tóquio.
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Passar três dias em Nagoya com o seu Suzuki foi algo mágico! Muita saudade desse meu amigo japonês cidadão do mundo. |
Tanto que durante os 30 dias em que estivemos no Japão, não vimos muitos restaurantes dedicados exclusivamente ao sushi. E olha que praticamente andamos toda a ilha, de norte a sul. Visitamos 17 cidades e passamos por inúmeros outros vilarejos. Dos poucos que conhecemos, a maioria era voltada para estrangeiros.
Não estou dizendo que japonês não come sushi. Mas o próprio Suzuki nos confessou que, por ser uma modalidade mais cara, esse tipo de restaurante é para ocasiões especiais. A comida japonesa do dia-a-dia é o missô, o arroz branco e o noodles, que também não são salgados ou extravagantes demais.
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Claro que japonês come sushi. Mas não é todo dia não. O "arroz com feijão" deles é outro. |
Por isso que eu acho que se comida japonesa no Brasil fosse preparada de acordo com a tradição oriental não faria tanto sucesso. Arrisco a dizer que seria um fracasso porque brasileiro, em sua maioria, gosta de preparações de sabor bem acentuado.
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Peixe fresco do restaurante "Niguiri No Tokube, o melhor japonês de esteira de Nagoya! |
Podemos até saber fazer o "verdadeiro sushi". Podemos até produzir niguiris com excelência, iguais ou bem parecidos com os vendidos na terra do sol nascente. Mas, por tudo o que conheço de culinária brasileira e de paladar, acho que não temos mercado pra esse tipo de comida.
E eu nem sei se precisamos disso. Adoro os makis recheados com cream cheese. Não resisto a um california e nem a um hot roll, apesar de evitar fritura, e acho que o barquinho colorido sempre vai compor melhor com a decoração.
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No "Niguiri No Tokube", em Naguya, você pode pegar o sushi na esteira ou pedir algo especial usando o tablet. |
Mas e o "verdadeiro sushi japonês"? Ah, sem dúvida é incrível. E nem acho que é pelo gosto não. O melhor de provar o “original” é o “estar lá”. É poder sentar num bom restaurante do outro lado do mundo, ouvir uma língua diferente, ficar apreciando o ritual das pessoas à mesa, saber a história daquele prato, entender o porquê de uma comida ser tão importante para a cultura daquele país.
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Visitar o meu amigo japonês que eu conheci na Amazônia é o melhor dessa vida. Amigos são, pra mim, meus maiores bens! |
E é por isso que eu digo, com todo respeito aos sushimans de qualquer nacionalidade, pra mim, o sushi japonês que comi no Japão é e sempre será o melhor!
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