Memória afetiva relacionada à gastronomia é um assunto que mexe comigo. Por isso o encontro do Tempero de Palavras Brasília desse mês foi tão especial. Dessa vez, discutimos a obra “Papel Manteiga para Embrulhar Segredos”, da querida Cristiane Lisbôa.
Na história, contada numa linguagem simples e emotiva, Antônia é uma aspirante à chef que deixou a família e foi aprender a carreira com a temida Virgínia, a dona de um pequeno e estrelado restaurante.
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Lançamento do livro "Papel Manteiga para Embrulhar Segredos", da Cris Lisbôa. Foto: Editora Memória Visual / divulgação. |
Proximidade que faz com que Antônia, isolada no alto de um morro, escreva mensagens para a bisavó como uma alternativa para controlar a ansiedade, registrar preparações e falar das dificuldades desse universo gastronômico com aquela em quem ela mais confia.
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Livro do mês de agosto do clube de leitura Tempero de Palavras. Foto: Editora Memória Visual / divulgação. |
Hoje já não sei mais onde começa a Mari Bontempo ou onde termina o Vida de Cozinheiro. Vovó Neném, então, é uma constante nas postagens. Aliás, sem ela não teria site, nem sorriso, nem tempero e nem doçura em minha vida.
Esse, inclusive, foi um dos assuntos do nosso encontro do Tempero de Palavras. Falamos da relação afetiva que cada um de nós temos com a comida e das origens desse amor.
Para alguns, o gosto veio da mãe e para outros da avó. Tem, ainda, quem desenvolveu esse interesse por necessidade de cuidar melhor da saúde e os que foram marcados por uma experiência gastronômica bem sucedida.
E, apesar dos diferentes passados, à medida que o papo desenrolava, acabamos percebendo que as motivações que nos aproximaram da arte de comer, além de nos unir, servem de aprendizado para todo o grupo.
E não é só isso. Esses detalhes, a princípio particulares, nos fazem pensar além da comida. Porque sim, comer é um ato carregado de significados políticos, emocionais e culturais. E o simples relato dessa prática (aparentemente de sobrevivência) revela fatos que extrapolam o conceito do verbo "alimentar".
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Saudade dessa minha querida vovó Neném! Amor maior que eu! |
Para alguns, o gosto veio da mãe e para outros da avó. Tem, ainda, quem desenvolveu esse interesse por necessidade de cuidar melhor da saúde e os que foram marcados por uma experiência gastronômica bem sucedida.
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Maína Pereira, a criadora do Tempero de Palavras, abrindo os trabalhos do grupo. |
E não é só isso. Esses detalhes, a princípio particulares, nos fazem pensar além da comida. Porque sim, comer é um ato carregado de significados políticos, emocionais e culturais. E o simples relato dessa prática (aparentemente de sobrevivência) revela fatos que extrapolam o conceito do verbo "alimentar".
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Cozinhar vai muito além do alimento apresentado. |
Tanto é assim que você, caro leitor, em quase todos os artigos do Vida de Cozinheiro, descobre uma característica da minha personalidade. Muitas das quais, inclusive, eu acabo percebendo juntamente com você, durante a minha escrita.
E essa catarse que, pra mim, funciona melhor que terapia, também é percebida na narrativa da Antônia. Lendo nas entrelinhas fica claro que as histórias dessa rotina em uma cozinha profissional não são sobre ingredientes e receitas. Elas revelam, aos poucos, nuances das mentes de Antônia e da sua mestre Virgínia.
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Cozinhar junto e compartilhar o alimento é uma das coisas mais bacanas desse universo gastronômico. |
E por falar em novos horizontes, apesar do livro da Cristiane Lisbôa ser uma obra fechada e documentada em papel desde 2006, seu enredo talvez tome outros rumos. Isso porque “Papel Manteiga para Embrulhar Segredos” pode virar série de TV. A novidade nos foi contada pela própria autora, em uma gravação em vídeo, exibida durante o nosso bate-papo.
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O vídeo da Cris Lisbôa foi uma surpresa para a turma do Tempero de Palavras. |
A mais intrigante de todas é um detalhe curioso, que afasta (e muito) o livro dessa minha Vida de Cozinheiro: o fato da narrativa ter sido escrita por alguém que não sabe cozinhar, acredita?
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Essa linda quiche de couve, feita pela querida Thaís Cunha, é uma deliciosa obra inspirada na receita da página 36. |
Também fiquei surpresa! Mas isso, de maneira alguma, desabona a obra. Pelo contrário. Deixa a leitura ainda mais leve e interessante. Afinal, acompanhar uma história de memórias gastronômicas lindamente costurada por uma mulher que não domina as técnicas deixa tudo ainda mais real.
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A Cris nos contou fatos interessantes do livro, inclusive os detalhes dessa "escrita a quatro mãos". |
E chegamos à conclusão que para falar de comida não precisa ser chef e nem ter “paladar apurado”. Basta gostar de comer e deixar os seus sentidos falarem por você. É agir com paixão, igual a personagem Antônia. É viver com plenitude essa experiência sensorial mágica que a gastronomia nos oferece.
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Foto "oficial" do encontro do mês do Tempero de Palavras Brasília. |
A ideia foi da Maína Pereira e todos (menos eu) escreveram uma mensagem para ser lida depois da sobremesa. Eu, infelizmente, não tive força para produzir nada. Vovó Neném tinha falecido dias antes e eu estava (e ainda estou) meio "sem chão".
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A Adriana Miranda, nossa anfitriã, lendo uma das cartas feitas especialmente para o encontro do Tempero de Palavras Brasília. |
E pra completar a perfeição do momento, dos muitos papéis manteiga que estavam em cima da mesa para serem lidos eu peguei justamente o dela. Claro que não consegui ler a mensagem. O texto já começava falando da avó da Nina, a dona Áurea. Eram lembranças e uma receita de geleia de pimenta. As lágrimas caíram e eu tremi toda.
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Um dos melhores presentes dessa vida é, sem dúvida, ter amigos! Muito obrigada, Nina! Eu adorei! |
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A amizade da Cristina Collusso é um dos grandes presentes que o Tempero de Palavras Brasília me deu! |
É, foi mesmo especial! Obrigada, Tempero de Palavras! Já estou ansiosa pela próxima reunião!
Mari, querida, como não me emocionar DE NOVO, com suas palavras temperadas de tanto sentimento? Como não saborear cada detalhe tão bem capturado por sua sensibilidade? Como deixar de ver, q ler, cozinhar e repartir histórias traz pratos q vão além da mesa. Traz aromas, saudades, lembranças. Agrega, marca, emociona. E agora estou eu aqui, entre lágrimas e lembranças, ainda sentindo o paladar daquele momento. Sentindo o carinho de cada um, a proximidade de nossos temperos e a vontade de repetir e contagiar mais pessoas com a releitura de nossas receitas. Vc, de fato, têmpera bem as palavras e fez um afago gostoso no meu coração. Também seu grata pelo presente da sua amizade. Temos um caminho lindo para percorrer.Temperado com pimenta!
ResponderExcluirQue lindo, amiga querida! Muito obrigada pelo elogio! Eu que te agradeço! Pelo carinho, pela amizade, pela belíssima carta e pela deliciosa geleia de pimenta. Tenho certeza que nosso encontro de almas não foi por acaso e que é para a vida inteira! Conte sempre com a minha amizade! Saudade! Fique com Deus. Beijo grande!
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