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18 de ago. de 2018

Almas Temperadas por Palavras!

Almas Temperadas por Palavras!


Memória afetiva relacionada à gastronomia é um assunto que mexe comigo. Por isso o encontro do Tempero de Palavras Brasília desse mês foi tão especial. Dessa vez, discutimos a obra “Papel Manteiga para Embrulhar Segredos”, da querida Cristiane Lisbôa.

Na história, contada numa linguagem simples e emotiva, Antônia é uma aspirante à chef que deixou a família e foi aprender a carreira com a temida Virgínia, a dona de um pequeno e estrelado restaurante.

Lançamento do livro "Papel Manteiga para Embrulhar Segredos", da Cris Lisbôa. Foto: Editora Memória Visual / divulgação.
O livro é apresentado no formato de cartas, escritas em papel manteiga e essa delicada “folha culinária”, mais que justifica o título, sintetiza a transparência da relação entre a protagonista Antônia e a sua bisavó Ana. 

Proximidade que faz com que Antônia, isolada no alto de um morro, escreva mensagens para a bisavó como uma alternativa para controlar a ansiedade, registrar preparações e falar das dificuldades desse universo gastronômico com aquela em quem ela mais confia. 

Livro do mês de agosto do clube de leitura Tempero de Palavras. Foto: Editora Memória Visual / divulgação.
Desabafo que me faz lembrar dessa minha Vida de Cozinheiro. Quantas matérias não começaram como um simples registro para a vovó Neném? Não sei se você sabe, mas eu fiz esse espaço virtual em 2010 para guardar receitas e esse blog, aos poucos, foi “roubando” pedaços de mim. 

Hoje já não sei mais onde começa a Mari Bontempo ou onde termina o Vida de Cozinheiro. Vovó Neném, então, é uma constante nas postagens. Aliás, sem ela não teria site, nem sorriso, nem tempero e nem doçura em minha vida.

Saudade dessa minha querida vovó Neném! Amor maior que eu!
Esse, inclusive, foi um dos assuntos do nosso encontro do Tempero de Palavras. Falamos da relação afetiva que cada um de nós temos com a comida e das origens desse amor.

Para alguns, o gosto veio da mãe e para outros da avó. Tem, ainda, quem desenvolveu esse interesse por necessidade de cuidar melhor da saúde e os que foram marcados por uma experiência gastronômica bem sucedida.

Maína Pereira, a criadora do Tempero de Palavras, abrindo os trabalhos do grupo.
E, apesar dos diferentes passados, à medida que o papo desenrolava, acabamos percebendo que as motivações que nos aproximaram da arte de comer, além de nos unir, servem de aprendizado para todo o grupo.

E não é só isso. Esses detalhes, a princípio particulares, nos fazem pensar além da comida. Porque sim, comer é um ato carregado de significados políticos, emocionais e culturais. E o simples relato dessa prática (aparentemente de sobrevivência) revela fatos que extrapolam o conceito do verbo "alimentar".

Cozinhar vai muito além do alimento apresentado.
Tanto é assim que você, caro leitor, em quase todos os artigos do Vida de Cozinheiro, descobre uma característica da minha personalidade. Muitas das quais, inclusive, eu acabo percebendo juntamente com você, durante a minha escrita. 

E essa catarse que, pra mim, funciona melhor que terapia, também é percebida na narrativa da Antônia. Lendo nas entrelinhas fica claro que as histórias dessa rotina em uma cozinha profissional não são sobre ingredientes e receitas. Elas revelam, aos poucos, nuances das mentes de Antônia e da sua mestre Virgínia.

Cozinhar junto e compartilhar o alimento é uma das coisas mais bacanas desse universo gastronômico.
Acho que é por isso que “Papel Manteiga para Embrulhar Segredos” é tão fácil de ler. Você está sempre ansioso para saber o que vem a seguir. E é assim também com o Vida de Cozinheiro. Quando sento para escrever fico doida pra ver aonde aquele texto vai me levar.

E por falar em novos horizontes, apesar do livro da Cristiane Lisbôa ser uma obra fechada e documentada em papel desde 2006, seu enredo talvez tome outros rumos. Isso porque “Papel Manteiga para Embrulhar Segredos” pode virar série de TV. A novidade nos foi contada pela própria autora, em uma gravação em vídeo, exibida durante o nosso bate-papo.

O vídeo da Cris Lisbôa foi uma surpresa para a turma do Tempero de Palavras.
Foi ótimo poder conhecer mais da Cris Lisbôa e do livro dela. Ficamos tão agradecidos que também gravamos uma mensagem para a autora. Um contato bastante enriquecedor, ainda que virtual. Mesmo porque, durante a leitura de “Papel Manteiga para Embrulhar Segredos” várias dúvidas surgiram nas nossas mentes.

A mais intrigante de todas é um detalhe curioso, que afasta (e muito) o livro dessa minha Vida de Cozinheiro: o fato da narrativa ter sido escrita por alguém que não sabe cozinhar, acredita?

Essa linda quiche de couve, feita pela querida Thaís Cunha, é uma deliciosa obra inspirada na receita da página 36.
Eu só acreditei quando li o relato da própria Cristiane Lisbôa, no prefácio da obra, confessando que não tem muita habilidade com as panelas e que as receitas presentes no livro foram pensadas pela gastrônoma Tatiana Damberg.

Também fiquei surpresa! Mas isso, de maneira alguma, desabona a obra. Pelo contrário. Deixa a leitura ainda mais leve e interessante. Afinal, acompanhar uma história de memórias gastronômicas lindamente costurada por uma mulher que não domina as técnicas deixa tudo ainda mais real.

A Cris nos contou fatos interessantes do livro, inclusive os detalhes dessa "escrita a quatro mãos".
Acho que se a Cris tivesse uma familiaridade maior com a gastronomia o passo a passo dessa rotina teria sido registrado de maneira exageradamente minuciosa, o que poderia deixar o enredo chato. As meninas do Tempero de Palavras também pensam assim. Gastamos boa parte do nosso encontro discutindo essa questão, inclusive.

E chegamos à conclusão que para falar de comida não precisa ser chef e nem ter “paladar apurado”. Basta gostar de comer e deixar os seus sentidos falarem por você. É agir com paixão, igual a personagem Antônia. É viver com plenitude essa experiência sensorial mágica que a gastronomia nos oferece.

Foto "oficial" do encontro do mês do Tempero de Palavras Brasília.
E foi o que fizemos. No encontro do Tempero desse mês saboreamos o que nós cozinhamos num delicioso almoço, rimos, filosofamos e até trocamos cartas culinárias, o momento mais emocionante de todo o nosso encontro!

A ideia foi da Maína Pereira e todos (menos eu) escreveram uma mensagem para ser lida depois da sobremesa. Eu, infelizmente, não tive força para produzir nada. Vovó Neném tinha falecido dias antes e eu estava (e ainda estou) meio "sem chão".

A Adriana Miranda, nossa anfitriã, lendo uma das cartas feitas especialmente para o encontro do Tempero de Palavras Brasília.
Mas nem por isso eu fiquei sem cartinha. Nada disso! E a minha surpresa foi ainda maior que a da turma: contrariando as determinações da Maína, a Cristina Collusso tinha escrito uma carta endereçada à uma pessoa específica e esse "alguém" era eu!

E pra completar a perfeição do momento, dos muitos papéis manteiga que estavam em cima da mesa para serem lidos eu peguei justamente o dela. Claro que não consegui ler a mensagem. O texto já começava falando da avó da Nina, a dona Áurea. Eram lembranças e uma receita de geleia de pimenta. As lágrimas caíram e eu tremi toda.

Um dos melhores presentes dessa vida é, sem dúvida, ter amigos! Muito obrigada, Nina! Eu adorei!
Olhei pra Nina e ela estava chorando também. A emoção tomou conta do grupo. Foram tantos abraços, tantas manifestações de carinho. Estava triste, mas sabia que não podia perder, por nada, esse encontro! E eu estava certa!

Amigos + comida + leitura + natureza não tem como dar errado. A receita é atemporal e de sucesso garantido. A equação, que resume o encontro do Tempero de Palavras desse mês de agosto, é a minha fórmula de vida preferida.

A amizade da Cristina Collusso é um dos grandes presentes que o Tempero de Palavras Brasília me deu!
Afinal, amigos são a família que Deus nos deixa escolher, né? Sem falar que almoçar ao ar livre, saboreando belos pratos caseiros e batendo um papo sobre histórias culinárias é programa preferido de dez em dez cozinheiros!

É, foi mesmo especial! Obrigada, Tempero de Palavras! Já estou ansiosa pela próxima reunião!

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Toda nossa obra é oferecida gratuitamente aos leitores. 
  1. Mari, querida, como não me emocionar DE NOVO, com suas palavras temperadas de tanto sentimento? Como não saborear cada detalhe tão bem capturado por sua sensibilidade? Como deixar de ver, q ler, cozinhar e repartir histórias traz pratos q vão além da mesa. Traz aromas, saudades, lembranças. Agrega, marca, emociona. E agora estou eu aqui, entre lágrimas e lembranças, ainda sentindo o paladar daquele momento. Sentindo o carinho de cada um, a proximidade de nossos temperos e a vontade de repetir e contagiar mais pessoas com a releitura de nossas receitas. Vc, de fato, têmpera bem as palavras e fez um afago gostoso no meu coração. Também seu grata pelo presente da sua amizade. Temos um caminho lindo para percorrer.Temperado com pimenta!

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    Respostas
    1. Que lindo, amiga querida! Muito obrigada pelo elogio! Eu que te agradeço! Pelo carinho, pela amizade, pela belíssima carta e pela deliciosa geleia de pimenta. Tenho certeza que nosso encontro de almas não foi por acaso e que é para a vida inteira! Conte sempre com a minha amizade! Saudade! Fique com Deus. Beijo grande!

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