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12 de jul. de 2018

Sacolinha plástica: vilã da sua cozinha!

Sacolinha plástica: vilã da sua cozinha!


Que o mar não está para peixe, infelizmente, a gente já sabe. Por isso, quem ama cozinhar não devia ficar só falando de receitas, ingredientes e processos. Tem assuntos que nós, cozinheiros, literalmente colocamos “da porta pra fora” mas que precisam ser discutidos.

Hoje vamos falar de lixo. Porque não adianta só se indignar com vídeos na nossa timeline mostrando um fundo de oceano repleto de plástico. Também não adianta  parar de comprar frutos do mar na tentativa de evitar uma possível (e provável) contaminação por esses alimentos. 

A sacolinha que levamos pra casa pode matar um animal a quilômetros de distância da nossa cozinha. Foto: Revista Espaço Aberto / USP / divulgação.
Nós precisamos olhar pra dentro da nossa cozinha. Você vai ver que em nossa vida de cozinheiro produzimos, sem perceber, lixo em excesso. E que só apoiar as organizações ambientais (curtindo as postagens deles) não resolve o problema.

Nosso lixo doméstico também está lá, contaminando rios, mares e reservas florestais. Nos oceanos, principalmente, os dados são assustadores: em 2025 haverá uma tonelada de plástico para cada 3 toneladas de peixe. E em 2050 o mar terá mais plásticos do que peixes. A terrível conclusão foi divulgada no Fórum Econômico Mundial 2016.

Praia em Mumbai, Índia. Foto: Agência Brasil / UN Environment / divulgação.
Mas tem notícia boa. A cura também está em nossas mãos. E fazer a nossa parte é tão simples quanto compartilhar uma campanha no Facebook. E serão essas nossas "pequenas grandes ações" que vão, de fato, fazer a diferença nesse projeto maior chamado "Planeta Terra Saudável". Então, bora fazer a nossa parte?

Pra começar, que tal parar de trazer do supermercado aquela sacolinha plástica? Sei que na hora das compras a solução oferecida gratuitamente pelas lojas pode até ser prática, mas não é uma boa escolha.

A sacolinha oxibiodegradável também não é a melhor solução. Foto: Fernanda Carvalho / Fotos Públicas.
Ainda que essa sacola tenha o selo oxibiodegradável, essa forma de transporte dos produtos não é o melhor a se fazer. Mesmo porque as sacolas oxibiodegradáveis (que contém a denominação PEAD e o número 2 estampado) são recicláveis mas não são biodegradáveis.

Explico: essas sacolinhas feitas de polietileno de alta densidade (PEAD) recebem compostos pró-degradantes (derivados de sais metálicos) para facilitar esse processo de decomposição. Mas, para que ele ocorra, ainda é preciso que essa sacola seja descartada em um ambiente aberto, já que a oxibiodegradação necessita de oxigênio, luz e calor (raios UV) para se completar.

Na sacola que você ganha do supermercado vem impresso esse símbolo. Foto: eldoradoreciclagem.com.br 
E tem mais. Considerando que a sacolinha não seja enterrada e que tudo ocorra conforme o previsto pelo fabricante, essa decomposição do material vai gerar incontáveis pedacinhos de plástico (altamente poluentes) e ainda vai liberar dióxido de carbono (o famoso e temido CO2 do efeito estufa) na atmosfera.

E pra piorar o que já é ruim, de acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente brasileiro, mais de 500 bilhões dessas sacolas plásticas são distribuídas por ano no planeta. Aqui no Brasil, a cada minuto, 35 mil sacolinhas plásticas deixam as lojas.

O número de sacolas distribuídas diariamente em supermercados do país é assustador. Foto: Agência Brasil.
São 25 milhões dessas embalagens distribuídas diariamente no comércio nacional. Ou seja, é muito saco plástico indo para o lixo. Pra completar o cenário, em Terras Tupiniquins 80% dessas sacolas são reutilizadas por nós, nas nossas cozinhas, como saquinhos de lixo.

Na tentativa de economizar, deixamos de comprar os sacos próprios para acondicionar o lixo doméstico. E ainda acabamos descartando na mesma sacolinha tudo junto e misturado. Aí, o que vai para lixões e aterros sanitários de todo o país são milhares de pequenos embrulhos plásticos cheios de restos orgânicos, papéis, plásticos e vidros.

Do nosso puxa-saco a sacolinha vai parar aí, no lixão. E o que é orgânico acaba não se decompondo do jeito que deveria ser. Foto: Senado Federal.
E aquelas infinitas pilhas de sacolas (que impedem a biodegradação do lixo orgânico) vão se acumulando até que o espaço não comporte mais descarte e uma nova área seja escolhida. A solução para esse problema?

Bem, são muitas. Pra começar, você pode incluir na sua rotina de compras a sacola de feira, tão conhecida das nossas avós. Essa mesmo que você está imaginando: aquela bolsa fashion (que pode ser feita de pano, de nylon, de palha, de corda ou até mesmo de plástico) que vai e volta do supermercado sem impactar o meio ambiente.

A boa e velha sacola de feira é a substituta perfeita da sacolinha de plástico. Foto: Elza Fiuza / Agência Brasil.
Aqui em casa eu tenho várias sacolas retornáveis que comprei no Verdemar, em BH. Aliás, Belo Horizonte foi a primeira capital do país a proibir a distribuição de sacolas plásticas em supermercados e a determinar a substituição dessas embalagens por alternativas ecológicas.

A Lei Municipal 9.529 é de 27 fevereiro de 2008 e passou a valer em 2011. O Verdemar, inclusive, saiu na frente. O queridinho dos belorizontinos foi o primeiro comércio do setor a parar de distribuir as embalagens. Esse é um dos motivos pelos quais sou fã dessa rede!

Minha sacola do Verdemar com estampa criada pelo estilista mineiro Ronaldo Fraga.
Em 2011, quando a Lei 9.529 foi promulgada, as "sacolas oxibiodegradáveis" (que não são totalmente biodegradáveis) passaram a ser vendidas pelos caixas dos supermercados belorizontinos a R$ 0,19 cada.

Só que essa cobrança dividiu os consumidores. Muitos acharam um absurdo ter que pagar pela embalagem (que continuou tendo a marca do supermercado estampada). Vários jornais fizeram matérias citando o Código de Defesa do Consumidor para chancelar o abuso da comercialização das sacolinhas.

Detalhe: eu não encontrei nada no Código de Defesa do Consumidor que obrigue o estabelecimento comercial a fornecer a tal sacolinha.

Pagar pela sacolinha? Só se não tiver marca estampada. Foto: Rafael Neddermeyer / Fotos Públicas.
Só sei que o "rebu" foi tanto que um ano depois, em 2012, o Ministério Público mineiro conseguiu, na Justiça, proibi-la, alegando haver formação de cartel entre os estabelecimentos na venda dessas embalagens.

Aí, pelo menos em BH, entramos num impasse: não podia vender e nem podia distribuir o produto feito do plástico poluente e barato. Mas os consumidores continuaram comprando e precisavam de algo para tirar os itens do carrinho cheio e levar pra casa. E os supermercados não queriam desagradar o cliente.

O que aconteceu? O que, infelizmente "acontece" nesse país: a fiscalização deixou de fazer o seu papel e todos os mercados de BH voltaram a distribuir as antigas sacolinhas.

O Verdemar, em Belo Horizonte, até hoje não distribui e nem vende sacola de plástico. Foto: Ignácio Costa / bhpostblog.wordpress.com
Ou melhor: todos não! O Verdemar continuou com sua política de fazer a parte dele por um mundo melhor. E, até hoje, não distribui e nem vende as famigeradas sacolas plásticas. Parabéns, Verdemar! Vocês são os melhores também por isso.

Nos outros estados não sei como anda esse imbróglio, mas encontrei um artigo interessante (apesar de antigo) citando as leis feitas sobre o assunto pelas unidades da Federação. Aqui em Brasília, pelo menos, eu nunca deixei de receber sacola plástica oxibiodegradável no supermercado.

Eu sempre recebi as sacolinhas. E você? Foto: ABIEF / divulgação.
No Rio de Janeiro o assunto foi destaque nos jornais da última semana de junho porque o governador Luiz Antônio Pezão sancionou a Lei 8006/18 proibindo a distribuição e venda de sacolas plásticas no estado carioca.

Ou seja: ainda que por força de uma lei, pelo menos no estado do Rio, os estabelecimentos comerciais vão começar a pensar, de fato, em alternativas ecologicamente corretas para agradar os consumidores.

Deputado Carlos Minc (PSB), autor do Projeto de Lei que propôs o fim da distribuição das sacolinhas no Rio de Janeiro. Foto: Luis Gustavo Soares / Alerj.
Já não era sem tempo. Mesmo porque, aqui no Brasil, ideia já nem é mais a de preservar e sim de correr atrás do prejuízo. Afinal, de acordo com estudos realizados pelo Instituto Oceanográfico (IO) da USP, em parceria com a Plastivida, as águas marinhas brasileiras estão poluídas principalmente por plásticos, medicamentos, drogas e esgoto doméstico.

E, apesar do mundo já ter acordado a mais tempo para o problema, isso não é uma prerrogativa só dos brasileiros. Ainda segundo os pesquisadores do IO, todos os anos 10 milhões de toneladas de lixo vão parar no mar e 80% desses detritos são de origem terrestre.

Essa comparação do lixo com o Iceberg divulgada pela UN Environment no Twitter deles é, pra mim, a ilustração perfeita do tamanho do problema.
Mas lamentar também não é a solução. Se você nunca viu, te sugiro assistir ao documentário “A História das Coisas”. O vídeo é antigo mas, infelizmente, continua super atual. A peça audiovisual, publicada no YouTube em 2007 pelo projeto de mesmo nome, mostra o caminho de tudo o que é produzido pela complexa, acelerada (e louca) sociedade de consumo pós-moderna.

A História das Coisas desnuda (sem perfumaria) de maneira simples, elegante e direta esse sistema: extração - produção - distribuição - consumo - lixo.

           
E por mais que a gente conheça de onde vem e pra onde vai tudo o que compramos, o curta-metragem choca e nos faz refletir.

E a gente começa a pensar: por que não evitar o descarte? Deixar de poluir é mais prático e bem mais lógico do que unir esforços, né? Então junte-se a nós, caro leitor! Vamos comprar menos e eliminar, de uma vez por todas, as sacolinhas da nossa vida de cozinheiro.

Levar a nossa sacola de feira para o mercado já é um bom começo, né?
Esse, sem dúvida, é o primeiro (e um importante passo) de um longo caminho. Uma trajetória que está repleta de práticas simples e fundamentais. Separar o nosso lixo doméstico é uma delas. É o que você confere na próxima semana. Aguarde!

Foto da Capa: Agência Brasil / Rafael Neddermeyer / Fotos Públicas.

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