Que o mar não está para peixe, infelizmente, a gente já sabe. Por isso, quem ama cozinhar não devia ficar só falando de receitas, ingredientes e processos. Tem assuntos que nós, cozinheiros, literalmente colocamos “da porta pra fora” mas que precisam ser discutidos.
Hoje vamos falar de lixo. Porque não adianta só se indignar com vídeos na nossa timeline mostrando um fundo de oceano repleto de plástico. Também não adianta parar de comprar frutos do mar na tentativa de evitar uma possível (e provável) contaminação por esses alimentos.
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A sacolinha que levamos pra casa pode matar um animal a quilômetros de distância da nossa cozinha. Foto: Revista Espaço Aberto / USP / divulgação. |
Nós precisamos olhar pra dentro da nossa cozinha. Você vai ver que em nossa vida de cozinheiro produzimos, sem perceber, lixo em excesso. E que só apoiar as organizações ambientais (curtindo as postagens deles) não resolve o problema.
Nosso lixo doméstico também está lá, contaminando rios, mares e reservas florestais. Nos oceanos, principalmente, os dados são assustadores: em 2025 haverá uma tonelada de plástico para cada 3 toneladas de peixe. E em 2050 o mar terá mais plásticos do que peixes. A terrível conclusão foi divulgada no Fórum Econômico Mundial 2016.
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Praia em Mumbai, Índia. Foto: Agência Brasil / UN Environment / divulgação. |
Pra começar, que tal parar de trazer do supermercado aquela sacolinha plástica? Sei que na hora das compras a solução oferecida gratuitamente pelas lojas pode até ser prática, mas não é uma boa escolha.
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A sacolinha oxibiodegradável também não é a melhor solução. Foto: Fernanda Carvalho / Fotos Públicas. |
Explico: essas sacolinhas feitas de polietileno de alta densidade (PEAD) recebem compostos pró-degradantes (derivados de sais metálicos) para facilitar esse processo de decomposição. Mas, para que ele ocorra, ainda é preciso que essa sacola seja descartada em um ambiente aberto, já que a oxibiodegradação necessita de oxigênio, luz e calor (raios UV) para se completar.
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Na sacola que você ganha do supermercado vem impresso esse símbolo. Foto: eldoradoreciclagem.com.br |
E pra piorar o que já é ruim, de acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente brasileiro, mais de 500 bilhões dessas sacolas plásticas são distribuídas por ano no planeta. Aqui no Brasil, a cada minuto, 35 mil sacolinhas plásticas deixam as lojas.
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O número de sacolas distribuídas diariamente em supermercados do país é assustador. Foto: Agência Brasil. |
Na tentativa de economizar, deixamos de comprar os sacos próprios para acondicionar o lixo doméstico. E ainda acabamos descartando na mesma sacolinha tudo junto e misturado. Aí, o que vai para lixões e aterros sanitários de todo o país são milhares de pequenos embrulhos plásticos cheios de restos orgânicos, papéis, plásticos e vidros.
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Do nosso puxa-saco a sacolinha vai parar aí, no lixão. E o que é orgânico acaba não se decompondo do jeito que deveria ser. Foto: Senado Federal. |
Bem, são muitas. Pra começar, você pode incluir na sua rotina de compras a sacola de feira, tão conhecida das nossas avós. Essa mesmo que você está imaginando: aquela bolsa fashion (que pode ser feita de pano, de nylon, de palha, de corda ou até mesmo de plástico) que vai e volta do supermercado sem impactar o meio ambiente.
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A boa e velha sacola de feira é a substituta perfeita da sacolinha de plástico. Foto: Elza Fiuza / Agência Brasil. |
A Lei Municipal 9.529 é de 27 fevereiro de 2008 e passou a valer em 2011. O Verdemar, inclusive, saiu na frente. O queridinho dos belorizontinos foi o primeiro comércio do setor a parar de distribuir as embalagens. Esse é um dos motivos pelos quais sou fã dessa rede!
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Minha sacola do Verdemar com estampa criada pelo estilista mineiro Ronaldo Fraga. |
Só que essa cobrança dividiu os consumidores. Muitos acharam um absurdo ter que pagar pela embalagem (que continuou tendo a marca do supermercado estampada). Vários jornais fizeram matérias citando o Código de Defesa do Consumidor para chancelar o abuso da comercialização das sacolinhas.
Detalhe: eu não encontrei nada no Código de Defesa do Consumidor que obrigue o estabelecimento comercial a fornecer a tal sacolinha.
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Pagar pela sacolinha? Só se não tiver marca estampada. Foto: Rafael Neddermeyer / Fotos Públicas. |
Aí, pelo menos em BH, entramos num impasse: não podia vender e nem podia distribuir o produto feito do plástico poluente e barato. Mas os consumidores continuaram comprando e precisavam de algo para tirar os itens do carrinho cheio e levar pra casa. E os supermercados não queriam desagradar o cliente.
O que aconteceu? O que, infelizmente "acontece" nesse país: a fiscalização deixou de fazer o seu papel e todos os mercados de BH voltaram a distribuir as antigas sacolinhas.
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O Verdemar, em Belo Horizonte, até hoje não distribui e nem vende sacola de plástico. Foto: Ignácio Costa / bhpostblog.wordpress.com |
Nos outros estados não sei como anda esse imbróglio, mas encontrei um artigo interessante (apesar de antigo) citando as leis feitas sobre o assunto pelas unidades da Federação. Aqui em Brasília, pelo menos, eu nunca deixei de receber sacola plástica oxibiodegradável no supermercado.
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Eu sempre recebi as sacolinhas. E você? Foto: ABIEF / divulgação. |
Ou seja: ainda que por força de uma lei, pelo menos no estado do Rio, os estabelecimentos comerciais vão começar a pensar, de fato, em alternativas ecologicamente corretas para agradar os consumidores.
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Deputado Carlos Minc (PSB), autor do Projeto de Lei que propôs o fim da distribuição das sacolinhas no Rio de Janeiro. Foto: Luis Gustavo Soares / Alerj. |
E, apesar do mundo já ter acordado a mais tempo para o problema, isso não é uma prerrogativa só dos brasileiros. Ainda segundo os pesquisadores do IO, todos os anos 10 milhões de toneladas de lixo vão parar no mar e 80% desses detritos são de origem terrestre.
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Essa comparação do lixo com o Iceberg divulgada pela UN Environment no Twitter deles é, pra mim, a ilustração perfeita do tamanho do problema. |
A História das Coisas desnuda (sem perfumaria) de maneira simples, elegante e direta esse sistema: extração - produção - distribuição - consumo - lixo.
E por mais que a gente conheça de onde vem e pra onde vai tudo o que compramos, o curta-metragem choca e nos faz refletir.
E a gente começa a pensar: por que não evitar o descarte? Deixar de poluir é mais prático e bem mais lógico do que unir esforços, né? Então junte-se a nós, caro leitor! Vamos comprar menos e eliminar, de uma vez por todas, as sacolinhas da nossa vida de cozinheiro.
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Levar a nossa sacola de feira para o mercado já é um bom começo, né? |
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