"Direito é direito e ele precisa ser garantido". A fala da Tainá Marajoara, uma das palestrantes do Conbran 2018, deu a tônica da discussão que seria priorizada durante aqueles quatro dias de evento, realizado de 18 a 21 de abril. Foi a primeira vez que participei de um encontro nacional de nutricionistas e confesso que me surpreendi positivamente.
Achei que num congresso sobre nutrição ouviria mais sobre proteínas e carboidratos do que sobre leis e política. E que ótimo que foi assim. Presenciei exatamente os debates que me interessam, nos quais segurança alimentar foi a palavra de ordem.
Achei que num congresso sobre nutrição ouviria mais sobre proteínas e carboidratos do que sobre leis e política. E que ótimo que foi assim. Presenciei exatamente os debates que me interessam, nos quais segurança alimentar foi a palavra de ordem.
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A ativista Tainá Marajoara foi uma das palestrantes no Conbran 2018. |
Simples, mas não tão fácil de digerir. A pauta do dia foi densa. Passou pelo ramo da cultura, da ecologia, da agricultura e da sociologia. Afinal, eram pessoas contando de práticas coletivas. Como não abordar questões humanas e desumanas?
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Os participantes também perguntaram e trocaram experiência com a mesa. |
Um fazer até mesmo religioso, por que não? Tainá Marajoara citou o acarajé, uma típica oferenda baiana. Ela disse que, fabricando o acarajé em escala industrial, transformamos essa rica comida em um simples bolinho de feijão fradinho. Concordo.
A dessacralização do alimento é algo, no mínimo, a ser discutido. Afinal, comida é, e sempre foi, elemento importante de rituais tristes e festivos. Eu já até escrevi sobre isso no post “Comendo Arroz Doce em Montevidéu”.
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Nunca tinha pensado sobre a produção do acarajé em escala industrial. Foto: Ministério da Cultura / divulgação. |
Reflexão sobre a tal “comida de verdade” que todos almejam cozinhar e comer. E, nesse sentido, vale citar a fala da antropóloga Maria Emília Pacheco sobre o Manifesto Comida de Verdade.
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Maria Emília Pacheco discursando na 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar. Foto Consea / divulgação. |
E já que o assunto era comida, muito se debateu sobre fome. Com a fala da Rossana Pacheco Costa Proença, eu mudei, inclusive, minha perspectiva sobre o assunto. Sempre pensei na redução do desperdício (no campo, no transporte, no mercado e na cozinha) como uma estratégia eficaz no combate à fome.
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Adorei a palestra da Rossana Pacheco Costa Proença sobre comida e fome. |
Um pensamento macro que engloba uma ideia maior: desenvolvimento sustentável. Não conhecia os 17 novos objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que devem ser implementados por todos os países do mundo até 2030.
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O segundo objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU pode ser alcançado com o esforço de todos nós. |
Dentre os 17 itens, destaco o segundo: acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar (e melhoria da nutrição) e promover a agricultura sustentável. Não por ser o mais importante. Mas por ser um tema no qual a implementação está ao alcance de nossas práticas diárias.
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Exemplo de agricultura familiar em Avaré, São Paulo. Foto:José Reynaldo da Fonseca / commons.wikimedia.org |
Nesse sentido, ler o rótulo dos produtos que colocamos na nossa despensa ou geladeira também é uma forma de garantir a tão almejada “segurança alimentar”. Uma prática simples que deveria se tornar um hábito.
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Se você ler o rótulo certamente não irá comprar esse biscoito recheado. Foto: Ministério da Saúde / divulgação. |
O próprio site do Palácio do Planalto o define como sendo "a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras da saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis".
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O Consea, inclusive, realiza diversas campanhas de conscientização sobre rotulagem alimentar. Foto: Victor Moura / Consea. |
É, caro cozinheiro, nesse mundo globalizado informação é o que não falta. E aí, nem adianta estressar porque não dá pra saber de tudo. Por isso foi tão importante a fala da Tânia Regina Kinasz de Oliveira. Não conhecia as diretrizes do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica.
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Você conhece o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica? Foto: Planapo / divulgação. |
Ações com o objetivo de valorizar e de ampliar o intercâmbio de conhecimentos dos sistemas de produção orgânica e de base agroecológica entre o campo e a academia, visando contribuir para o desenvolvimento sustentável do país.
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Para a promoção do desenvolvimento sustentável, campo e academia andam juntos. Foto: Planapo / divulgação. |
Por isso eu, enquanto jornalista, cozinheira e cidadã, me senti totalmente confortável nos debates. Não fiquei com a sensação, em nenhum momento, de que o Conbran não era pra mim. O congresso brasileiro pode até ser de nutricionistas, mas é para todos que se interessam por alimentação saudável.
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O movimento Slow Food foi destaque na palestra da engenheira agrônoma Rosângela Cintrão. |
Ah, não poderia deixar de agradecer ao Flávio Resende e à Milena Oliveira da Proativa Comunicação. O atendimento que recebi deles durante o Conbran 2018 foi impecável. Muito obrigada, colegas!
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