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23 de mai. de 2018

Vida de Cozinheiro no Conbran 2018!

Vida de Cozinheiro no Conbran 2018!



"Direito é direito e ele precisa ser garantido". A fala da Tainá Marajoara, uma das palestrantes do Conbran 2018, deu a tônica da discussão que seria priorizada durante aqueles quatro dias de evento, realizado de 18 a 21 de abril. Foi a primeira vez que participei de um encontro nacional de nutricionistas e confesso que me surpreendi positivamente. 

Achei que num congresso sobre nutrição ouviria mais sobre proteínas e carboidratos do que sobre leis e política. E que ótimo que foi assim. Presenciei exatamente os debates que me interessam, nos quais segurança alimentar foi a palavra de ordem. 


A ativista Tainá Marajoara foi uma das palestrantes no Conbran 2018.
Falou-se, também, mais sobre os malefícios dos produtos fabricados pela grande indústria (que alguns insistem em chamar de comida) do que eu imaginei que seria dito. "Ou é alimento ou é veneno", disse Tainá Marajoara. Simples assim! 

Simples, mas não tão fácil de digerir. A pauta do dia foi densa. Passou pelo ramo da cultura, da ecologia, da agricultura e da sociologia. Afinal, eram pessoas contando de práticas coletivas. Como não abordar questões humanas e desumanas? 

Os participantes também perguntaram e trocaram experiência com a mesa.
E nesse terreno fértil de ideias sobre máquinas X homens alimentando gente, extraí muita coisa boa do processo. Quem esteve na Sala “Dois Candangos”, do Centro de Convenções Ulisses Guimarães, no dia 19 de abril, foi convidado a refletir sobre a dimensão simbólica da cultura alimentar como sendo algo infinitamente maior que o simples processo produtivo. 

Um fazer até mesmo religioso, por que não? Tainá Marajoara citou o acarajé, uma típica oferenda baiana. Ela disse que, fabricando o acarajé em escala industrial, transformamos essa rica comida em um simples bolinho de feijão fradinho. Concordo.

Nunca tinha pensado sobre a produção do acarajé em escala industrial. Foto: Ministério da Cultura / divulgação.
A dessacralização do alimento é algo, no mínimo, a ser discutido. Afinal, comida é, e sempre foi, elemento importante de rituais tristes e festivos. Eu já até escrevi sobre isso no post “Comendo Arroz Doce em Montevidéu”

Reflexão sobre a tal “comida de verdade” que todos almejam cozinhar e comer. E, nesse sentido, vale citar a fala da antropóloga Maria Emília Pacheco sobre o Manifesto Comida de Verdade

Maria Emília Pacheco discursando na 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar. Foto Consea / divulgação.
Esse documento foi elaborado ao final da 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, realizada em Brasília no final de 2017, e publicado pelo Consea no site oficial do Palácio do Planalto

E já que o assunto era comida, muito se debateu sobre fome. Com a fala da Rossana Pacheco Costa Proença, eu mudei, inclusive, minha perspectiva sobre o assunto. Sempre pensei na redução do desperdício (no campo, no transporte, no mercado e na cozinha) como uma estratégia eficaz no combate à fome. 

Adorei a palestra da Rossana Pacheco Costa Proença sobre comida e fome.
Acabei ouvindo pensamentos complementares, mas diferentes dos meus. Entendi que só eliminar as perdas não acaba com a fome no país. Você também precisa garantir o acesso ao alimento. E implementar políticas públicas de educação alimentar para um melhor aproveitamento dos insumos (e aí vale citar também a Política Nacional de Resíduos Sólidos). 

Um pensamento macro que engloba uma ideia maior: desenvolvimento sustentável. Não conhecia os 17 novos objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que devem ser implementados por todos os países do mundo até 2030.

O segundo objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU pode ser alcançado com o esforço de todos nós.
Tópicos que, aparentemente, não tem muito a ver com alimento e nutrição. Mas que, quando analisados com cautela, dizem muito dessa Vida de Cozinheiro que quero seguir.

Dentre os 17 itens, destaco o segundo: acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar (e melhoria da nutrição) e promover a agricultura sustentável. Não por ser o mais importante. Mas por ser um tema no qual a implementação está ao alcance de nossas práticas diárias.

Exemplo de agricultura familiar em Avaré, São Paulo. Foto:José Reynaldo da Fonseca / commons.wikimedia.org
Podemos sim comprar do pequeno produtor, já que 70% do que está na mesa do brasileiro vem da agricultura familiar. Muitos de nós também tem condição de priorizar os orgânicos. E todos nós (cozinheiros ou comensais) podemos (e devemos) saber o que estamos colocando no nosso carrinho de compras e levando pra casa.

Nesse sentido, ler o rótulo dos produtos que colocamos na nossa despensa ou geladeira também é uma forma de garantir a tão almejada “segurança alimentar”. Uma prática simples que deveria se tornar um hábito.

Se você ler o rótulo certamente não irá comprar esse biscoito recheado. Foto: Ministério da Saúde / divulgação.
Tá, eu sei que o termo “segurança alimentar” é bem mais amplo que apenas práticas diárias de consciência na cozinha.

O próprio site do Palácio do Planalto o define como sendo "a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras da saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis".

O Consea, inclusive, realiza diversas campanhas de conscientização sobre rotulagem alimentar. Foto: Victor Moura / Consea.
Pode até ser uma conceituação extensa, mas não é uma ideia difícil de entender e colocar em prática. No portal Ideias na Mesa existe um PDF bem bacana explicando as origens e importância do termo. Pra quem quiser saber mais, vale a pena conferir!

É, caro cozinheiro, nesse mundo globalizado informação é o que não falta. E aí, nem adianta estressar porque não dá pra saber de tudo. Por isso foi tão importante a fala da Tânia Regina Kinasz de Oliveira. Não conhecia as diretrizes do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica.

Você conhece o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica? Foto: Planapo / divulgação.
O Planapo, também chamado de Brasil Ecológico, é uma política de apoio à agroecologia e à produção orgânica, focada na promoção da oferta e do consumo de alimentos saudáveis e do uso sustentável dos recursos naturais.

Ações com o objetivo de valorizar e de ampliar o intercâmbio de conhecimentos dos sistemas de produção orgânica e de base agroecológica entre o campo e a academia, visando contribuir para o desenvolvimento sustentável do país.

Para a promoção do desenvolvimento sustentável, campo e academia andam juntos. Foto: Planapo / divulgação.
E olha que isso tudo foi só um pouquinho do que ouvi em apenas um único dia de Conbran. Falas políticas e afetivas que vão ao encontro dos propósitos dessa minha Vida de Cozinheiro. Sem falar do belíssimo encontro das meninas do Tempero de Palavras, que já virou matéria desse blog.

Por isso eu, enquanto jornalista, cozinheira e cidadã, me senti totalmente confortável nos debates. Não fiquei com a sensação, em nenhum momento, de que o Conbran não era pra mim. O congresso brasileiro pode até ser de nutricionistas, mas é para todos que se interessam por alimentação saudável.

O movimento Slow Food foi destaque na palestra da engenheira agrônoma Rosângela Cintrão.
A próxima edição do Congresso Brasileiro de Nutrição será realizada em Belém, daqui a dois anos. E é , sem dúvida, um ótimo programa para encaixar nessa nossa Vida de Cozinheiro, né? Então, até lá! 

Ah, não poderia deixar de agradecer ao Flávio Resende e à Milena Oliveira da Proativa Comunicação. O atendimento que recebi deles durante o Conbran 2018 foi impecável. Muito obrigada, colegas!

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