Se você vem acompanhando as matérias do Vida de Cozinheiro sobre alimentos transgênicos já percebeu que o assunto é complexo.
Pois é, desde o plantio da primeira semente de soja transgênica no país, em 1998, até a criação do símbolo que identifica o transgênico na embalagem dos produtos alimentícios muito se falou sobre o tema.
E a briga de cachorro grande entre políticos, cientistas, ambientalistas e empresários está longe de ter um final feliz. Mas, e pra gente, o que a inserção do símbolo na embalagem dos produtos ou a ausência dele representa de fato?
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Esse símbolo no rótulo é ou não importante? Foto: paranaportal.uol.com.br |
Quem defende o avanço dos transgênicos usa a variável do aumento da população mundial da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação para chancelar a ideia. O argumento apresentado pela FAO revela, de fato, uma projeção assustadora: até 2050 seremos 9,6 bilhões de pessoas no planeta.
Por conta dessa explosão populacional, levando em consideração as áreas reservadas para plantio, seria necessário um aumento de 70% do total dessa terra cultivável. Assim, segundo os defensores dos OGMs, o alimento transgênico, que é mais resistente à pragas, seria o "pulo do gato" para conseguirmos alimentar todo mundo.
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Defensores dos OGMs usam o aumento populacional como justificativa para o plantio. Foto: blogdrconsulta.com |
Um estudo publicado, em 2013, na revista científica norte-americana "Nature Biotechnology" mostra que já existem, pelo menos, cinco tipos de insetos resistentes às toxinas produzidas pelas plantas geneticamente modificadas. O número parece pequeno mas, em 2005, havia apenas um inseto mutante.
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As larvas dos insetos que atacam o milharal são resistentes. Foto: sustainablepulse.com |
De acordo com o INCA "a liberação do uso de sementes transgênicas no Brasil foi uma das responsáveis por colocar o país no primeiro lugar do ranking de consumo de agrotóxicos", substâncias consideradas pela entidade como sendo cancerígenas.
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Agrotóxico: veneno ou preventivo? Foto:creativecommons.org / pxhere.com |
Verdade ou não, fato é que a Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (IARC) decidiu incluir o glifosato em sua Lista A2 de "prováveis causadores de câncer em seres humanos". A categoria está abaixo da Lista 1, que é a dos cancerígenos confirmados, como o tabaco.
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Doutora Stephanie Seneff alerta sobre o perigo dos agrotóxicos para a saúde humana. Foto: reset.me |
E , neste campo de batalha, também comungo da opinião dos ativistas, que conseguem ir além. Um deles é a a física indiana Vandana Shiva, considerada a inimiga número 1 dos transgênicos. Em 2013, Shiva, durante visita ao Brasil, falou ao portal da Folha de São Paulo.
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Vandana Shiva é considerada a inimiga número 1 dos transgênicos. Foto: Frank Schwichtenberg / commons.wikimedia.org |
Shiva destacou, ainda, a existência do que ela chamou de "ditadura do alimento", onde poucas e grandes corporações (Cargil e Monsanto: sementes, Nestlé e Pepsico: processamento , Walmart: distribuição) controlam toda a cadeia produtiva.
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De acordo com Vandana Shiva é a agricultura familiar que alimenta a população. Foto: snakeriverseeds.com |
Ou seja, de acordo com ela, a maior parte das terras cultiváveis do planeta é usada para "alimentar" carros (produção de biocombustíveis) e animais (produção de ração). A agroecologia, neste caso, seria a solução real para o aumento da produtividade agrícola e não a transgenia das sementes.
Ela sugere irmos do industrial e global para o ecológico e local. Quadro que está longe de ser modificado. Para saber mais sobre os as ideias de Vandana Shiva assista "Seed: The Untold Story" . O documentário, de 2016, revela detalhes importantes do avanço dessa agricultura criticada por Shiva.
Em 2014, no Ano Internacional da Agricultura Familiar (declarado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), o Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA), uma organização não governamental apoiada por entidades dos setores público e privado, divulgou um estudo que deixa isso claro.
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Mapa dos transgênicos plantados no mundo em 2014. Foto: ISAAA / divulgação. |
Detalhe: o último estudo da ISAAA, realizado em 2016, aponta que a área plantada com transgênicos diminuiu para 72,2 milhões de hectares. Mas a do Brasil aumentou para 49,1 milhões de hectares. Números que, segundo Shiva, podem e devem ser combatidos.
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Para Vandana Shiva o ativismo individual é a solução! Foto: borgenmagazine.com |
E ela "fecha" esse pensamento com uma frase que considero genial: "o que nós comemos decide quem somos". Verdade.
Mas para isso acontecer temos que ter o direito de saber o que estamos comprando e comendo! Afinal, só tomamos decisões sábias a partir de informações, não é mesmo? E é isso o que você confere na última reportagem sobre transgênicos. Não perca! Semana que vem tem mais!
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