Visitar o Japão é conhecer Templos Budistas e Santuários Xintoístas. Estas áreas sagradas são repletas de detalhes que revelam muito da cultura japonesa. O barril de saquê é uma destas particularidades e foi o que mais chamou a minha atenção. Aliás, um não. Vários!
Em praticamente todos os Shrines (que são os Santuários Xintoístas) existe um lindo painel feito de barris de saquê.
Esta imensa pilha que enfeita a entrada dos Shrines não está ali por acaso.
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Na entrada de quase todos os santuários os barris ficam assim, empilhados. |
Detalhes que eu aprendi com o meu querido amigo Suzuki, um japonês gente finíssima que conheci na Amazônia, na Semana Santa do ano passado.
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Suzuki fez questão de nos levar para conhecer o Ise Jingu Shrine. Meu amigo japonês, presente de Deus! |
Na maioria dos Santuários Xintoístas realizam-se casamentos, cerimônias nas quais os tonéis são abertos. E este ato de quebrar o barril de saquê tem até nome: Kagami Biraki.
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Cerimônia de casamento que assistimos no Meiji Jingu Shrine, em Tóquio. |
Mas vimos que a importância do líquido neste ritual de purificação é a mesma atribuída ao vinho nos casamentos católicos.
A simbologia da crença é milenar e de explicação divina.
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A noiva mais parece uma Papisa. Muito legal conhecer culturas diferentes! |
Os antigos contam que um camponês que trabalhava numa fazenda de arroz, ao estocar o grão previamente cozido, acabou deixando o barril de madeira mal tampado e o cereal estragou ao entrar em contato com o ar.
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Toda feliz de ter presenciado um casamento xintoísta! |
O camponês levou o tonel de madeira para casa e resolveu comer o grão. Para surpresa dele, o arroz estava com um leve toque alcoólico.
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A tradição de armazenar saquê em barris de madeira é antiga. |
Nascia aí uma das bebidas mais cultuadas no Japão! Este “acaso” (quimicamente explicado pela atuação de um fungo presente no ar na transformação do amido em glicose e fermento) foi entendido como sendo algo divino.
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Saquê adornando o altar do Castelo Branco de Himeji, no Japão. |
De acordo com os historiadores, acredita-se que o saquê (palavra japonesa para designar qualquer bebida alcoólica) começou a ser produzida no vizinho asiático por volta do ano 500 a.C..
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Queria muito levar um barril desses pra casa pra fazer de banco. Ou de base pra mesa. Lindos! |
De acordo com os registros, inicialmente, quando ainda não se usava o Koji, os grãos de arroz cozidos eram mastigados e as enzimas presentes na saliva faziam esse papel de fermentar o cereal.
No Japão, o cultivo deste grão só começou a ser realizado no século III a.C. Desde então o arroz é considerado o alimento mais importante do povo japonês. Dele fabricam-se inúmeras preciosidades nipônicas, sendo o saquê uma das mais famosas.
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Admirando uma plantação de arroz em Kameoka, na Província de Quioto, Japão. |
Quimicamente falando, o saquê é feito de água (80% do líquido), arroz, Koji e levedura. Não entrarei nos pormenores desse processo neste post.
Mas se você quiser conhecer o método de fabricação, no site da Japan Sake and Shochu Makers Association todas as etapas estão bem explicadas.
Mas se você quiser conhecer o método de fabricação, no site da Japan Sake and Shochu Makers Association todas as etapas estão bem explicadas.
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Produtor de saquê expondo o produto numa feirinha em frente ao Shimogamo Shrine, na cidade de Quioto, no Japão. |
Só tem uma diferença básica: o resultado final é bem mais alcoólico! Enquanto as cervejas artesanais possuem em torno de 8% de teor de álcool, o saquê varia de 13% a 18%.
Não encontrei nada escrito sobre isso, mas imagino que essa alta graduação alcoólica do saquê possa ser influência da cultura chinesa, já que o vinho de arroz chinês é bem forte!
Aliás, segundo os especialistas, a fabricação do líquido foi pautada em grande medida pelo processo de produção na China, berço do saquê.
Não encontrei nada escrito sobre isso, mas imagino que essa alta graduação alcoólica do saquê possa ser influência da cultura chinesa, já que o vinho de arroz chinês é bem forte!
Aliás, segundo os especialistas, a fabricação do líquido foi pautada em grande medida pelo processo de produção na China, berço do saquê.
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Encantada com a muralha feita de barris de saquê! |
Os chineses acreditam que as bebidas consumidas mornas têm poder medicinal. Uma tradição ainda marcante nos dias de hoje. Nós, inclusive, provamos o saquê morninho num restaurante no metrô de Osaka.
Delicioso! Suave, leve e, ao mesmo tempo, confortador! Uma ótima opção para ajudar a espantar o frio do inverno japonês!
Delicioso! Suave, leve e, ao mesmo tempo, confortador! Uma ótima opção para ajudar a espantar o frio do inverno japonês!
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Bebendo saquê quente em Osaka, no Japão. |
Neste período, de 1939 a 1945, a receita do saquê ganhou outros ingredientes. Por meio de um decreto governamental, a glicose e o álcool puro foram adicionados na fórmula em substituição à parte do arroz fermentado.
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Arroz virou produto escasso durante a Segunda Guerra Mundial. |
O tempo passou, o grão voltou a ser plantado em larga escala no Japão, mas até hoje há quem ainda faça saquê desta forma.
Com a evolução do processo surgiram, inclusive, várias categorias de saquê.
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Provando (e aprovando) o saquê quente em Osaka, Japão. |
Se você quiser saber mais sobre essa classificação, basta acessar o portal da Embaixada do Japão no Brasil.
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Saquê não é tudo igual. As variedades da bebida são muitas! |
No final do século XIX o saquê já era um dos produtos mais importantes da economia japonesa. Cerca de 30 mil fábricas produziam o tradicional vinho de arroz.
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Saquê, a bebida que é a cara do Japão! |
O que não significa dizer que o saquê deixou de ser popular. Ou que perdeu seu símbolo de status na sociedade. Pelo contrário. Uma garrafa deste líquido dos deuses já chegou a ser comercializada por 700 mil ienes!
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Garrafa de saquê feita de titânio, vendida por vinte mil reais! Foto: aucview.aucfan.com |
Fundada em 1872 e localizada na ilha de Sado, na Província de Niigata, a Hokusetsu oferece até um tour gratuito para quem tiver interesse em conhecer a fábrica.
Só é necessário fazer reserva antecipadamente, ok? A Hokusetsu funciona todos os dias, de 8 da manhã às 5 da tarde.
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Fachada da fábrica de saquê Hokusetsu, em Sado, Japão. Foto: visitsado.com |
Em 2014, durante um jantar no famoso Sukiyabashi Jiro, em Tóquio, com o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, Obama provou um ótimo exemplar que custa menos de 15 dólares a garrafa.
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Shinzo Abe e Barack Obama provando saquê no disputadíssimo Sukiyabashi Jiro. Foto: reprodução internet. |
A bebida é a Daiginjo Tokusei Gold, fabricada pela Kamotsuru, em funcionamento desde 1623 na Província de Hiroshima.
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Detalhe do rótulo do saquê Daiginjo Tokusei Gold, apreciado pelo Obama. |
O saquê Diginjo Tokusei Gold é o preferido do Imperador do Japão e já ganhou nas últimas décadas quase 100 prêmios por conta de seu inigualável sabor.
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Beber saquê e ainda ter flores de cerejeira em ouro enfeitando o copo. Chique, né? Foto:yukimura3.blog14.fc2.com |
Por conta disso, ao derramar o líquido você terá esses delicados flocos flutuando em sua bebida. Uma ostentação que você pode realizar no conforto do seu lar!
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