Em 2015 eu provei grilo frito no México. Foi no povoado de Cholula, em Puebla, a uns 120 Km de distância da Cidade do México. Foi, sem dúvida, uma experiência enriquecedora!
Afinal, era a primeira vez na vida que eu provava um alimento tão diferente dos que estou acostumada a comer. Adorei o gostinho do grilo temperado com limão!
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Grilo frito servido com limão é um petisco comum à venda na feirinha de Cholula. |
Mas nada de sair por ai em busca de insetos, ok?! Eles podem estar contaminados por pesticidas e doenças. Além disso, algumas espécies contém veneno e só podem ser consumidas assadas ou fritas.
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Cuidado! Não dá pra sair provando inseto sem saber da procedência dele, ok? |
No exterior, acabei encontrando a Bitty Foods, na Califórnia, EUA, especializada na produção de farinha de grilo. Pelo site da empresa também é possível comprar o produto de qualquer lugar do mundo.
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Farinha de grilo vendida no comércio online. Foto: Bitty Foods / divulgação. |
Aliás, considerando que viajar é investimento (eu penso assim!) sair do lugar comum e conhecer culturas bem diferentes da nossa é sempre um ótimo negócio. Foi assim durante os trinta dias que passamos no Japão!
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Provando as delícias japonesas! Tudo muito diferente e bem saboroso! |
Descobri que asas e patas crocantes também podem impulsionar o turismo, como acontece na cidade paulista de Silveiras, no Vale do Paraíba, a 230 Km da capital.
A Rúbia, do blog Caminheiros-ro, fez uma ótima matéria sobre a "Estrada dos Tropeiros" mostrando os motivos de se conhecer Silveiras. Relato que vale a leitura!
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Entrada da cidade de Silveiras, São Paulo. Foto: Caminheiros-ro.com.br |
As formigas habitam a terra há mais de 100 milhões de anos, mas, ainda hoje, os visitantes pagam para conhecer os formigueiros da região.
A farofa de içá deles é bem famosa! Um segmento gastronômico diferente do habitual mas que pode ser o pulo do gato em poucos anos.
E, se com este relato, ainda não consegui vencer sua repulsa, vamos pensar um pouco mais nas razões que temos para enxergar além do exoesqueleto.
De acordo com o último relatório da ONU, divulgado em 2013 e escrito em co-autoria com Arnold van Huis, cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo (pertencentes a 3 mil grupos étnicos de 120 países) praticam a entomofagia (ingestão regular de insetos).
Arnold van Huis, inclusive, é professor entomologista da Universidade Wageningen, na Holanda. A instituição é famosa por oferecer cursos importantes na área de alimentos como o a especialização em gastronomia e a especialização e mestrado em tecnologia de alimentos.
Os alunos do curso de gastronomia da escola Rijn IJssel / Vakschool Wageningen são famosos por criarem lindos e nutritivos pratos com insetos!
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A famosa farofa de formiga Içá de Silveiras. Foto: Caminheiros-ro.com.br |
De acordo com o último relatório da ONU, divulgado em 2013 e escrito em co-autoria com Arnold van Huis, cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo (pertencentes a 3 mil grupos étnicos de 120 países) praticam a entomofagia (ingestão regular de insetos).
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Comer inseto é algo normal para muitas pessoas! Foto: Alpha / Flickr.com |
Os alunos do curso de gastronomia da escola Rijn IJssel / Vakschool Wageningen são famosos por criarem lindos e nutritivos pratos com insetos!
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Quiche de insetos feita pelos alunos da Rijin IJssel School. Foto: Jerry Lampen / Reuters/ Facebook Rijin IJssel School. |
De acordo com a FAO, a agência especializada da ONU para a Alimentação e a Agricultura, até 2050 seremos 9 bilhões de humanos na Terra.
Com tanta gente no mundo as Nações Unidas já prevê escassez de recursos agrícolas, água, florestas, biodiversidade... Ou seja, um caos total!
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Na falta de comida, inseto pode virar uma "comida dos deuses". Foto: Civileats.com |
Nesse sentido, pesquisadores, em todos os continentes, estão fazendo direitinho a lição de casa: de olho no futuro assustador muitos já estudam o grande potencial alimentício dos insetos não só para outros animais como também para os seres humanos.
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Insetos possuem grande potencial alimentício! Foto: TimCowley / CreativeCommons.org |
Dois bons exemplos são o "The Insect Cookbook" e o "On Eating Insects".
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Duas ótimas opções de livros sobre o tema! |
É, caro cozinheiro, o consumo desses invertebrados (pasme, existem quase 1500 espécies de insetos comestíveis!), está deixando a Ásia e ganhando o mundo! Rsrs... Na Dinamarca, inclusive, existe um blog bem legal só sobre insetos, o Buglady. E na Suíça alimentos feitos de insetos estão se tornando sucesso de vendas.
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Formiga no lanche escolar? Sim. E o objetivo é claro: ajudar a manter a identidade dos povos. |
Aliás, somente em relação às formigas, são tantos tipos desse inseto no Brasil (a FIOCRUZ aponta 2 mil) que já existe até um Guia para Gêneros de Formigas.
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Saúva, a popular formiga da Amazônia. Foto: Fernanda Farias /Ascom Inpa. |
E tem mais. Até você, caro cozinheiro, pode nesse exato momento estar, literalmente, "comendo mosca". E o pior: pagando caro por isso!
Isso porque podem até não conter no rótulo, mas fragmentos de baratas, abelhas, formigas, gafanhotos e grilos estão presentes em muitos produtos importados.
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Insetos na tradicional manteiga de amendoim americana? Foto: PiccoloNamek / Commons.wikimedia.org |
Nos mais comuns, por exemplo, o FDA (Food and Drug Administration), órgão que fiscaliza alimentos e medicamentos nos EUA, aceita 86 partes por milhão de insetos na manteiga de amendoim e 74 partes por milhão no chocolate.
Mas, como quase ninguém pesquisa o que compra, na hora de comê-los ninguém se lembra disso, não é mesmo?
Ainda hoje, em pleno século XXI, a maioria das pessoas considera o consumo de insetos como prática de "gente primitiva" mas, se pensarmos bem, a verdade é outra. Até os grandes Chefs estão ajudando a quebrar esse tabu.
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Insetos também podem fazer parte da composição do chocolate. Foto: Simon A. Eugster / Wikipedia.org |
Ainda hoje, em pleno século XXI, a maioria das pessoas considera o consumo de insetos como prática de "gente primitiva" mas, se pensarmos bem, a verdade é outra. Até os grandes Chefs estão ajudando a quebrar esse tabu.
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Alex Atala, o defensor da comida regional! Foto: Symposium Copenhagen 2011 / Vimeo divulgação |
O Alex, através do Instituto Atá, propõe uma revisão da relação do homem com o alimento. E em seu mais famoso restaurante, o D.O.M., evidencia a importância do uso de ingredientes regionais como uma forma de se praticar, de fato, a gastronomia sustentável.
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Abacaxi com formiga, um dos pratos servidos no D.O.M. Foto: Thatfoodcray.com |
Outra entrevista que eu adorei e que também recomendo a leitura foi para o site lusitano "Público". Na ocasião, Atala disse uma das frases mais emblemática que já ouvi nessa minha Vida de Cozinheiro: "O que é o mel? É vômito de abelha. Devia ser nojento pra gente, mas é delicioso".
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Vômito de abelha? Sim. Isto é o mel! Foto:Waugsberg / Commons.wikimeia.org |
E isso é um exercício diário, caro cozinheiro! E nem é tão difícil assim. Basta conhecimento, boa vontade e experimentação, como tudo nesta vida.
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Prato feito com insetos também pode ser bonito e saboroso! Foto: Takeaway / Wikipedia.org |
Porque o Atala está mais do que certo quando diz: "Eu acredito que a cozinha bem exercida é uma ferramenta social muito importante e que a gente vai aprender a lidar com isso”.
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Você já aprendeu a comer com Hashi. Agora só falta começar a comer inseto! Foto: Estar.sk |
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