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30 de jan. de 2018

Insetos, comida do futuro!

Insetos, comida do futuro!


Em 2015 eu provei grilo frito no México. Foi no povoado de Cholula, em Puebla, a uns 120 Km de distância da Cidade do México. Foi, sem dúvida, uma experiência enriquecedora!

Afinal, era a primeira vez na vida que eu provava um alimento tão diferente dos que estou acostumada a comer. Adorei o gostinho do grilo temperado com limão!

Grilo frito servido com limão é um petisco comum à venda na feirinha de Cholula.
Gostei tanto de comer inseto que resolvi repeti-la. Na páscoa do ano passado estive na Amazônia brasileira e experimentei larva de vaga-lume, o famoso Congo do Babaçu. A textura desses dois bichinhos é bem interessante e eu recomendo a experiência! 

Mas nada de sair por ai em busca de insetos, ok?! Eles podem estar contaminados por pesticidas e doenças. Além disso, algumas espécies contém veneno e só podem ser consumidas assadas ou fritas.

Cuidado! Não dá pra sair provando inseto sem saber da procedência dele, ok?
Então, se você vai mesmo encarar o desafio, existem duas opções. A mais simples (e menos divertida) é comprar pela internet compostos que contenham esses bichinhos. Andei pesquisando e percebi que não é tão fácil assim encontrar esses ingredientes, mas é possível.

No exterior, acabei encontrando a Bitty Foods, na Califórnia, EUA, especializada na produção de farinha de grilo. Pelo site da empresa também é possível comprar o produto de qualquer lugar do mundo.

Farinha de grilo vendida no comércio online. Foto: Bitty Foods / divulgação.
A outra opção (bem mais interessante, por sinal!) é incluir em seu Próximo Embarque um roteiro exótico ou, simplesmente, conhecer um lugar "normal" a partir de um ponto de vista "fora da caixinha".

Aliás, considerando que viajar é investimento (eu penso assim!) sair do lugar comum e conhecer culturas bem diferentes da nossa é sempre um ótimo negócio. Foi assim durante os trinta dias que passamos no Japão!

Provando as delícias japonesas! Tudo muito diferente e bem saboroso!
E foi assim, caro leitor, durante minhas andanças e buscando pelos próximos embarques que eu me encantei ainda mais pelo tema!

Descobri que asas e patas crocantes também podem impulsionar o turismo, como acontece na cidade paulista de Silveiras, no Vale do Paraíba, a 230 Km da capital.

A Rúbia, do blog Caminheiros-ro, fez uma ótima matéria sobre a "Estrada dos Tropeiros" mostrando os motivos de se conhecer Silveiras. Relato que vale a leitura!

Entrada da cidade de Silveiras, São Paulo. Foto: Caminheiros-ro.com.br
Lá em Silveiras, de outubro a dezembro, época de revoada da içá (outro nome para a tanajura, que é a fêmea da saúva) não se fala em outra coisa.

As formigas habitam a terra há mais de 100 milhões de anos, mas, ainda hoje, os visitantes pagam para conhecer os formigueiros da região.

A farofa de içá deles é bem famosa! Um segmento gastronômico diferente do habitual mas que pode ser o pulo do gato em poucos anos.

A famosa farofa de formiga Içá de Silveiras. Foto: Caminheiros-ro.com.br
E, se com este relato, ainda não consegui vencer sua repulsa, vamos pensar um pouco mais nas razões que temos para enxergar além do exoesqueleto.

De acordo com o último relatório da ONU, divulgado em 2013 e escrito em co-autoria com Arnold van Huis, cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo (pertencentes a 3 mil grupos étnicos de 120 países) praticam a entomofagia (ingestão regular de insetos).

Comer inseto é algo normal para muitas pessoas! Foto: Alpha / Flickr.com
Arnold van Huis, inclusive, é professor entomologista da Universidade Wageningen, na Holanda. A instituição é famosa por oferecer cursos importantes na área de alimentos como o a especialização em gastronomia e a especialização e mestrado em tecnologia de alimentos.

Os alunos do curso de gastronomia da escola Rijn IJssel / Vakschool Wageningen são famosos por criarem lindos e nutritivos pratos com insetos!

Quiche de insetos feita pelos alunos da Rijin IJssel School. Foto: Jerry Lampen / Reuters/  Facebook Rijin IJssel School.
O que é ótimo, uma vez que já somos 7 bilhões de pessoas no planeta e esse número tende a crescer bem rapidamente!

De acordo com a FAO, a agência especializada da ONU para a Alimentação e a Agricultura, até 2050 seremos 9 bilhões de humanos na Terra.

Com tanta gente no mundo as Nações Unidas já prevê escassez de recursos agrícolas, água, florestas, biodiversidade... Ou seja, um caos total!

Na falta de comida, inseto pode virar uma "comida dos deuses". Foto: Civileats.com
Na falta de tudo, inclusive comida, os insetos surgem como uma alternativa bem plausível! Afinal, esse monte de bichinhos esquisitos se configura no maior grupo animal dessa Terra! São 1 milhão de espécies catalogadas das 30 milhões existentes!

Nesse sentido, pesquisadores, em todos os continentes, estão fazendo direitinho a lição de casa: de olho no futuro assustador muitos já estudam o grande potencial alimentício dos insetos não só para outros animais como também para os seres humanos.

Insetos possuem grande potencial alimentício! Foto: TimCowley / CreativeCommons.org
Tanto que além da preocupação da ONU, que em 2014 realizou a primeira Conferência Internacional sobre Insetos para a Alimentação Humana, já existe até livro de gastronomia sobre o tema escrito por professor de entomologia (ramo da zoologia que estuda os insetos) em parceria com Chefs de cozinha.

Dois bons exemplos são o "The Insect Cookbook" e o "On Eating Insects".

Duas ótimas opções de livros sobre o tema!
Insetos como uma alternativa de alimentação nutritiva e barata também motivaram uma dupla austríaca a inventar um aparelho batizado de "colmeia de mesa". A traquitana é capaz de produzir 500 gramas de larvas por semana.

É, caro cozinheiro, o consumo desses invertebrados (pasme, existem quase 1500 espécies de insetos comestíveis!), está deixando a Ásia e ganhando o mundo! Rsrs... Na Dinamarca, inclusive, existe um blog bem legal só sobre insetos, o Buglady. E na Suíça alimentos feitos de insetos estão se tornando sucesso de vendas.

Formiga no lanche escolar? Sim. E o objetivo é claro: ajudar a manter a identidade dos povos.
Aqui mesmo no Brasil, nem tão distante, come-se formiga em algumas tribos indígenas localizadas no norte do país. Na Amazônia brasileira, por exemplo, a saúva é uma iguaria muito apreciada.

Aliás, somente em relação às formigas, são tantos tipos desse inseto no Brasil (a FIOCRUZ aponta 2 mil) que já existe até um Guia para Gêneros de Formigas.

Saúva, a popular formiga da Amazônia. Foto: Fernanda Farias /Ascom Inpa.
E como faz parte da cultura de alguns povos, formiga é tão comum para o indígena e para o nortista quanto o pão de queijo é para o mineiro.

E tem mais. Até você, caro cozinheiro, pode nesse exato momento estar, literalmente, "comendo mosca". E o pior: pagando caro por isso!

Insetos na tradicional manteiga de amendoim americana? Foto: PiccoloNamek / Commons.wikimedia.org
Isso porque podem até não conter no rótulo, mas fragmentos de baratas, abelhas, formigas, gafanhotos e grilos estão presentes em muitos produtos importados.

Nos mais comuns, por exemplo, o FDA (Food and Drug Administration), órgão que fiscaliza alimentos e medicamentos nos EUA, aceita 86 partes por milhão de insetos na manteiga de amendoim e 74 partes por milhão no chocolate.

Insetos também podem fazer parte da composição do chocolate. Foto: Simon A. Eugster / Wikipedia.org
Mas, como quase ninguém pesquisa o que compra, na hora de comê-los ninguém se lembra disso, não é mesmo?

Ainda hoje, em pleno século XXI, a maioria das pessoas considera o consumo de insetos como prática de "gente primitiva" mas, se pensarmos bem, a verdade é outra. Até os grandes Chefs estão ajudando a quebrar esse tabu.

Alex Atala, o defensor da comida regional! Foto: Symposium Copenhagen 2011 / Vimeo divulgação
O maior desse país, na minha modesta opinião, é o talentoso, inovador, inteligente, gente boa e educado Alex Atala (sim, o Atala é tudo isso! E por duas vezes, graças a Deus, tive o prazer de comprovar!)

O Alex, através do Instituto Atá, propõe uma revisão da relação do homem com o alimento. E em seu mais famoso restaurante, o D.O.M., evidencia a importância do uso de ingredientes regionais como uma forma de se praticar, de fato, a gastronomia sustentável.

Abacaxi com formiga, um dos pratos servidos no D.O.M. Foto: Thatfoodcray.com
Projeto de vida que o grande cozinheiro faz questão de divulgar. Se você ainda não assistiu ao episódio dele na série Chef's Table, da Netflix, devia ver! É uma verdadeira aula de cidadania!

Outra entrevista que eu adorei e que também recomendo a leitura foi para o site lusitano "Público". Na ocasião, Atala disse uma das frases mais emblemática que já ouvi nessa minha Vida de Cozinheiro: "O que é o mel? É vômito de abelha. Devia ser nojento pra gente, mas é delicioso".

Vômito de abelha? Sim. Isto é o mel! Foto:Waugsberg / Commons.wikimeia.org
Simplesmente genial! Claro! como não tinha pensado nisso antes? Temos que começar a reformular nossos paradigmas e a encarar a comida além do sentidos óbvios.

E isso é um exercício diário, caro cozinheiro! E nem é tão difícil assim. Basta conhecimento, boa vontade e experimentação, como tudo nesta vida.

Prato feito com insetos também pode ser bonito e saboroso! Foto: Takeaway / Wikipedia.org
Então vamos lá! Vamos pensar diferente! Vamos provar coisas novas! Vamos reinventar a culinária local!

Porque o Atala está mais do que certo quando diz: "Eu acredito que a cozinha bem exercida é uma ferramenta social muito importante e que a gente vai aprender a lidar com isso”.

Você já aprendeu a comer com Hashi. Agora só falta começar a comer inseto! Foto: Estar.sk
Tomara que a gente aprenda bem rapidamente! O mundo inteiro agradece!

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