Conhece essas bolinhas brancas? Já provou? Esse é o Semmelknödel, outro tradicional prato austríaco que conheci em Viena. A bola mais parece uma polpeta desbotada e, pra falar a verdade, não é algo visualmente muito atrativo não.
Mas vai por mim: não é tão estranho ao ponto de te fazer desistir da refeição! Aliás, eu, normalmente, depois de experimentar algo novo, acabo gostando. Pouquíssimas receitas nessa vida provei e não quis continuar comendo.
Com o Semmelknödel foi assim: adorei! E que bom que o sabor era ótimo porque estávamos morrendo de fome! Tínhamos acabado de chegar em Viena, estava nevando (frio de -2 graus Celsius), já eram quase duas da tarde (a gente tinha acordado em Paris às 5 da manhã) e nada iria me dissuadir a bater aquele pratão!
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Goulash com Semmelknödel: meu primeiro almoço em Viena! |
E mais: pra quem não sabe (eu nem fazia ideia) descobri que essas esquisitas almôndegas de pão são bem tradicionais na região, sendo bastante consumidas na Alemanha e na República Tcheca também.
Em Praga, inclusive, chegamos a prová-las outra vez. O acompanhamento é conhecido por Houskové Knedlíky e, em vez de ser redondo, é servido em rodelas, igual a uma ciabatta cortada em fatias. O formato diferente mas o mesmo sabor. Muito bom!
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Svíčková do restaurante Kolkovna Savarin: um dos mais famosos pratos da gastronomia tcheca! |
Sabe aquela brincadeira de dominar o mundo? Pois é, não é só jogo da Grow ou alucinações de um desenho animado. Foi o que, basicamente, os alemães fizeram ao longo da história recente. E nessa frenética corrida para anexar cada vez mais territórios, Áustria e República Tcheca não ficaram de fora.
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O que teria de mais legal pra fazer em vez de dominar o mundo? Rsrs... |
A dominação se estendeu até 1945, com o fim da Segunda Grande Guerra, mas as influências germânicas continuam presentes no país. Tanto que o idioma oficial da Áustria é o alemão, falado por 98% dos austríacos.
E, se na oralidade é assim, difícil querer que na gastronomia seja diferente, né? O mesmo aconteceu com a República Tcheca. O território, que já passou por inúmeras divisões e ocupações, e que também já tinha feito parte do Império Austro-Húngaro, experimentou a dominação alemã no mesmo ano que os austríacos: 1938.
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Proximidade territorial que se traduz em semelhanças gastronômicas... Foto: Stefan Eartmann / Wikimedia.org |
Na Tchecoslováquia (República Tcheca e Eslováquia, desde 1993), bem como na Áustria, os anos de dominação não se estenderam muito, mas foram suficientes para impregnar a marca alemã no território. O idioma oficial pode até não ser o alemão (lá se fala tcheco, tá?) mas a comida é bem germânica!
Tanto que poderia apresentar essa foto aí embaixo como sendo um prato alemão e você nem iria notar o erro.
Esse é o Moravian Sparrow do restaurante Kolkovna Savarin, uma tradicional receita tcheca feita com assado de porco, cebola, repolho e pão. O mesmo acontece com essa outra receita aí:
O prato em questão foi a escolha do maridão no almoço das polpetas brancas, no restaurante Kaiser's, em Viena. Muita batata, os mesmos crisps de cebola e um molho igualmente dourado e saboroso. Aliás, batatas são o acompanhamento perfeito para qualquer prato da região.
E as versões do tubérculo são uma melhor que a outra. Naquele mesmo dia em Viena, no jantar, o Thiago provou uma outra cara do popular carboidrato: uma salada de batatas!
A receita, do restaurante Huth Gastwirtschaft, faz dupla perfeita com o não menos tradicional Wien Schnitzel.
A iguaria bastante consumida em Viena é, na verdade, de origem italiana! Reza a lenda que um comandante do exército austríaco levou a receita para o país natal em 1857. E Feldmarschall Redetzky ficou tão empolgado com o gosto inconfundível daquele escalope empanado, macio por dentro e crocante por fora, que ensinou pessoalmente a nova receita ao chef de cozinha imperial.
Outra versão igualmente famosa sobre a origem do "bife dourado" revela que a arte de empanar a carne é bem mais antiga. Migalhas de pão já eram utilizadas para tal fim em Veneza, no ano de 1514. Outro detalhe curioso é que, inicialmente, lá no Império Bizantino do século XII, folhas de ouro faziam as vezes do pão.
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Moravian Sparrow, tradicional prato tcheco que comi em Praga! |
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"Old Viennese Baked Meat" do restaurante Kaiser's, em Viena, na Áustria. |
E as versões do tubérculo são uma melhor que a outra. Naquele mesmo dia em Viena, no jantar, o Thiago provou uma outra cara do popular carboidrato: uma salada de batatas!
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Salada de batatas do restaurante Huth Gastwirtschaft em Viena, na Áustria. |
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Schnitzel, o tradicional escalope à milanesa da Europa Central. |
Outra versão igualmente famosa sobre a origem do "bife dourado" revela que a arte de empanar a carne é bem mais antiga. Migalhas de pão já eram utilizadas para tal fim em Veneza, no ano de 1514. Outro detalhe curioso é que, inicialmente, lá no Império Bizantino do século XII, folhas de ouro faziam as vezes do pão.
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Já imaginou encapar carne com folhas de ouro? Foto: James St. John / Wikimedia.org |
Carne é o que faria (e fez) a minha alegria! Aliás, para a tristeza dos vegetarianos, é difícil encontrar um tradicional prato nessa região que não contenha algum suculento pedaço de carne ou algum embutido defumado ou, ainda, conservas de salsichas marinadas em azeite e vinagre temperado.
Assim, as bolinhas brancas, no Kaiser's, são servidas juntamente com o Goulash. O prato, de origem húngara, na verdade, se chama Gulyás e nada mais é que uma sopa feita com carne, páprica e legumes.
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Goulash, pra mim, o acompanhamento perfeito para o Semmelknödel. |
E o ganho dessas alianças entre Áustria, Alemanha, República Tcheca, e todos os países centrais do continente europeu (que eu ainda quero visitar!) pode ser hoje aproveitado por qualquer um de nós. Viena, então, é uma cidade encantadora!
Portanto, seja você cozinheiro ou amante da boa gastronomia a dica é a mesma: no seu Próximo Embarque, dê uma chance aos pratos! Essas delícias gastronômicas simples, caseiras e seculares, encontradas em restaurantes de toda a Europa Central, podem se tornar a melhor lembrança das suas conquistas territoriais!
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