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20 de jan. de 2017

Cozinha Vietnamita em Berlim!

Cozinha Vietnamita em Berlim!


Não é só de batata e salsicha que vive a gastronomia alemã! Foi o que eu descobri durante minha passagem por Berlim. A encantadora cidade chama atenção pelas belíssimas construções, organização urbana, educação dos moradores e, principalmente, pela diversificada culinária. Restaurantes italianos, árabes, japoneses...

Mas as grandes estrelas locais são mesmo os vietnamitas! O tempero apimentado desses imigrantes que se mudaram para capital do país depois da Guerra do Vietnã, dá uma sabor a mais a essa incrível cidade.

Curtindo as festividades de natal em Ku'Damm, Berlim.
A lista dos melhores vietnamitas de Berlim é extensa mas eu, como sempre, não fui atrás de título. Optei por comer num aconchegante e  autêntico restaurante vietnamita instalado em Charlottenburg. O bairro é famoso por conta da Kurfürstendamm, a charmosa avenida que abriga grandes marcas, carinhosamente chamada pelos moradores de Ku'Damm.

Descobrimos o lugar por acaso. Estávamos hospedados na região e, andando à toa, passamos na porta do CaoCao. Confesso: a decoração da fachada me conquistou. As tochas, a vitrine de vidro e as velas acessas em cima das belas mesas de madeira me fizeram entrar.

Tem como resistir à uma decoração tão linda?
Do outro lado do balcão uma linda imigrante vietnamita, falando um inglês meio enrolado, quase incompreensível. Dificuldade que rapidamente foi superada pela gentileza e educação da moça.

Detalhes que me fizeram perceber que ela, apesar de servir mesa e estar no balcão, era uma das donas do lugar. Estava, de fato, num tradicional restaurante familiar vietnamita de Berlim!

Decoração que, sem dúvida, faz a diferença! Muito romântico!
A alegria da descoberta só não foi maior que o sorriso que abrimos quando recebemos as bebidas. Dois copos gigantes de uma bela cerveja artesanal alemã, servidos na temperatura ideal e por, apenas, 7 euros. Preço que nos surpreendeu também durante a escolha das comidas. 

Cerveja alemã da melhor qualidade!
O CaoCao tem um cardápio não muito extenso, do tamanho ideal da minha curiosidade! E com pratos bem explicados no idioma americano.
Parte do cardápio do CaoCao, em Berlim.
A essa altura, sentada confortavelmente ao lado do maridão, já nem estava mais achando difícil encarar um famoso prato apimentado (detesto pimenta). O complicado mesmo foi escolher o que comer. Tudo parecia ser tão saboroso. E era tão barato!

Passada a vontade de provar um pouquinho de cada receita, fizemos o pedido. Eu fui de lula com vegetais da estação e arroz (Muc Xao, 9.00 €) e o Thiago pediu a tradicional carne frita com macarrão de arroz, salada fresca, molho de peixe e amendoim crocante (Bun Bo, € 7,90).

Prato do Thiago: carne, macarrão de arroz e vegetais.
Em poucos minutos os pratos chegaram e eram tão grandes e saborosos quanto as cervejas!

Mas claro, nem tudo são flores. Como tenho uma aversão enorme à comidas apimentadas e não sou acostumada a comer esse tipo de refeição, quase passei mal. Fiquei vermelha. Suando como se tivesse numa sauna.

Minha escolha: arroz, lulas e legumes da estação! Perfeito!
Mas a cerveja rebateu bem a suadeira e, sem dúvida, valeu essa minha imersão nesse mundo asiático tão efervescente de Berlim! Um universo que começou a ganhar forma, a partir da década de 80, na então Alemanha Oriental.

Nessa época, os refugiados vietnamitas (e de várias outras localidades, como Turquia e Itália), entraram no país com um contrato de trabalho e a esperança de um futuro melhor. Vale lembrar que essa abertura de portas para os estrangeiros foi totalmente proposital.

A Alemanha já tinha passado por duas guerras mundiais e precisava de mão de obra (barata) para ajudar na reconstrução do país. Nada melhor que fechar acordo com os parceiros do então bloco comunista e receber os chamados "gastarbeiter", trabalhadores estrangeiros convidados.

Trabalhadores vietnamitas desembarcando em Berlim. Foto: Germany.info / Alliance / ZB 
E como Alemanha e Vietnã eram nações "amigas", os "gastarbeiter" vietnamitas foram muito bem recebidos no paísA maioria deles se fixou, principalmente, em Berlim, no bairro de Lichtenberg, no lado soviético.

Lá, inclusive, encontra-se o famoso Dong Xuan Center, um imenso shopping popular asiático comandado, em sua maioria, por ex-gastarbeiter vietnamitas. O lugar, que é uma réplica em miniatura do mercado de mesmo nome localizado em Hanói (capital do Vietnã), faz lembrar a 25 de Março, a famosa rua paulistana de comércio barato e caótico.

O famoso Don Xuan Center, em Lichtenberg, Berlim. Foto: Don Xuan Center Berlin / divulgação
Visita interessante pra quem está a fim de provar a autêntica comida de rua vietnamita. Nós, infelizmente, não fomos porque o tempo foi curto. Aliás, passaria o mês inteiro em Berlim! Uma semana só deu pra nos deixar com uma vontade gigantesca de voltar.

Veja como foi nossa passagem pela capital alemã:
           

O bairro de Lichtenberg, considerado por muitos como a "pequena Vietnã", é hoje uma das regiões comercialmente mais prósperas. Aliás,  com a queda do muro, em 1989, e a reunificação da Alemanha, todo o leste de Berlim ganhou nova roupagem.

Estar no lado oriental agora é "cool". Mesmo porque, ali estão expostos (ainda que alguns deles aos pedaços) elementos importantes da história recente mundial. Vendo no mapa, destaco ainda dois bairros berlinenses do leste que também valem a visita: Mitte e Friedrichshain-Kreuzberg.

Pelo Google Maps dá pra ver o quanto é perto.
Em Mitte, coração da capital alemã, você pode visitar a belíssima cúpula do Parlamento Alemão, refletir durante a caminhada pelos estreitos corredores do cinzento Memorial do Holocausto e conhecer o imponente Portão de Brandeburgo, palco, nos anos 90, das comemorações pelo fim da Alemanha dividida.

Pensativa, conhecendo o memorial dedicado aos judeus mortos na Segunda Guerra Mundial.
Já em Friedrichshain-Kreuzberg está o que foi pra mim o passeio mais legal de toda a Berlim: a East Side Gallery, o trecho mais longo preservado do Muro de Berlim. Lá o destaque vai para o famoso "Beijo Fraterno", conhecido como "Beijo da Morte" entre Brezhnev, Secretário Geral do Partido Comunista Soviético e Honecker, o então Presidente da Alemanha Oriental.

E pensar que eu ainda me lembro da reportagem do Silio Boccanera (e me emociono) mostrando a alegria das pessoas quebrando o concreto naquele histórico 9 de novembro de 1989. Parece que foi ontem. E foi mesmo! Até outro dia Berlim eram duas.

Beijo da Morte, o grafite mais marcante do Muro de Berlim.
E hoje, ao transitar pela cidade, apesar da existência de um linha divisória imaginária, destacada, principalmente, pelos detalhes da arquitetura dos dois lados o "milagre" da unificação, de fato, ocorreu.

Mudança pela qual também passou essa geração de imigrantes vietnamitas. Atualmente, os 85 mil vietnamitas que vivem no país, de acordo com informações da agência de notícias alemã Deutsche Welle, não são mais vistos como mão de obra barata. Pelo contrário.

Os vietnamitas alemães, descendentes dos gastarbeiter, agora, são considerados habitantes importantes para o desenvolvimento do país. E essa preferência tem uma explicação bem plausível: o povo vietnamita é focado e disciplinado.

Estudantes vietnamitas são mais disciplinados que os alemães. Foto: Ebbighausen / Deutsche Welle
Qualidades oriundas da cultura natal que fizeram com que eles ganhassem o respeito e a admiração dos alemães. Aliás, segundo o jornal alemão Zeit, nenhum grupo de imigrantes é tão aplicado na escola quanto os vietnamitas.

Tudo porque, pela tradição, os vietnamitas precisam tirar sempre boas notas e ajudar os pais nos estabelecimentos comerciais da família (o que explica a presença daquela bela jovem no balcão do CaoCao que, infelizmente, "fugiu" da foto).

A "boa ação" de abertura da fronteira no passado recente, portanto, sendo positivo para o país já que os vietnamitas são considerados os imigrantes mais esforçados e bem integrados da Alemanha. Sem falar que eles introduziram na alimentação do povo alemão a ideia da comida fresca e saudável. 

Explicação sobre a culinária vietnamita em destaque no site do restaurante CaoCao, de Berlim.
Uma filosofia alimentar que nós, especialmente os comensais, só temos que agradecer e saborear!

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