Há quem diga que hoje, 8 de março, é dia de comemorar. Outros, afirmam, com veemência, que a data é de protesto. Eu, como diria meu marido, não vou entrar nesse imbróglio. Mas também não vou deixar o dia passar em brancas nuvens.
Por isso resolvi tocar num assunto que, há tempos, tenho vontade de deixar registrado neste blog: o orgulho que tenho da minha irmã cervejeira! Tá, sei que você já deve estar pensando: quanto machismo... Orgulho só pelo fato dela ser mulher e cervejeira?
Sim, isso mesmo! Sabe por que, caro cozinheiro? Porque, infelizmente, esse título ainda é visto por muitos como "coisa de homem". Pode parecer ridículo falar isso em pleno século XXI, mas ainda é uma verdade.
Claro, com o tempo isso vai mudar, como aconteceu com o homem que cozinha. Quando eu era pequena minhas amigas viam meu pai como um E.T. só porque era ele que fazia os melhores rangos lá em casa.
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Lá em casa o fogão sempre foi do papai, o grande Sérgio Adaid! |
Ser cozinheiro é normal para a minha irmã Sofia, de 9 anos, que nasceu ontem. Para a minha avó, a querida dona Neném, de 98 anos, chega a ser um absurdo. E pra mim, bem como para todos da minha geração, é um avanço. E, como diz o poeta, assim caminha a humanidade!
Na Brücke a Fabiana é a responsável por controlar todo o processo de fabricação da cerveja. |
Em BH, a capital dos bares, mulher dando um banho em homem quando o assunto é cerveja é moda há um bom tempo. Existe até confraria feminina da bebida! A primeira do gênero no Brasil é a Confece, criada por dez mineiras. O grupo, formado no dia 8 de março de 2007, se reúne todo mês para degustar, fabricar e estudar os diversos tipos de cerveja.
O assunto é tão sério que tem até estatuto para direcionar os encontros, nos quais o papo gira em torno da importância da mulher na história da cerveja. A mulherada tem até padroeira! A monja beneditina alemã Hildelgard von Bingen, primeira a registrar a adição de lúpulo à produção da cerveja ainda no século XII, é quem protege as reuniões da turma.
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Mulherada da Confece! Foto: Soubh.com.br |
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Cervejeiras e empresárias! Reunião das integrantes mineiras da Pink Boots Society. |
O que também é um orgulho, não só para estas integrantes da Pink Boots Society, que já agrega mais de duas mil mulheres em todo o mundo. Porque ganhar dinheiro com cerveja artesanal no Brasil é um feito realmente extraordinário!
Primeiro porque os insumos são caríssimos: todos importados, vinculados à cotação do dólar. E depois porque os impostos pagos ao governo são absurdamente altos se comparados ao tamanho da produção de uma cervejaria artesanal.
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Mulheres cervejeiras de BH! Foto: Revista Exclusive / divulgação |
Mas, graças a Deus, e aos esforços dessa galera que prima por qualidade, a trajetória da cerveja artesanal nas Gerais está dando o que falar! Só em Minas, de acordo com informações extraoficiais (infelizmente não consegui nenhum dado relevante no site da Associação dos Cervejeiros Artesanais de Minas Gerais - Acerva Mineira), atualmente já são quase 30 cervejarias artesanais. Ganhamos até o apelido de Bélgica brasileira.
E esses cervejeiros, em sua maioria, montaram as fábricas no município de Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte. Minha irmã foi um deles e o motivo é simples: a água mineral que brota das montanhas.
Afinal, em se tratando de microcervejaria, produzir o líquido dos deuses usando água de qualidade superior é fundamental. E o resultado é uma excelente bebida!
Água mineral que faz toda a diferença... |
A mais nova criação da Fibiana: Brücke Siciliana, uma cerveja de trigo com notas de limão... |
Fabiana, cervejeira da Brücke e o marido dela, Vinícius Sacchetto. Foto: @Pedro_Assis91 |
Isso, sou de uma família de cervejeiros! O meu querido pai fabrica a Cerveja Hagen desde 2008 e sempre contou com a ajuda da Fabi (e da minha) para produzir suas maravilhosas cervejas. Uma paixão que, literalmente, passou de pai para filha, no nosso caso, filhas (eu e a Carol ajudamos nos eventos).
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Cozinhando o malte. Essa panela eu não encaro não! |
Pra quem não sabe, a cerveja, em sua origem, era denominada de "pão líquido". E os monges estavam certos, pois uma boa cerveja artesanal alimenta. É combustível perfeito para o corpo e para a alma.
Bebendo uma Hagen com os amigos no Festival Tudo é Jazz 2006, em Nova Lima, Minas Gerais. |
Porque fazer cerveja não é fácil! E, nesse sentido, é mesmo trabalho de homem já que o saco de malte pesa 20 quilos, um barril cheio 50 e cada panela para a brassagem da cerveja comporta 250 litros. Ainda sim, a Fabi está sempre lá, de cara boa. Muitas vezes, sozinha. E dá conta de tudo! Um "tudo" que vai muito além daquela cozinha.
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Kit de presente da Brücke: ideia, layout e execução by Fabiana Bontempo! |
Fácil? Fácil mesmo é a minha função: beber as melhores cervejas artesanais do Estado, na companhia das pessoas que mais amo e sem pagar nada por isso!
E se você ainda não sabe a diferença da cerveja artesanal para aquela que você compra em qualquer supermercado, explico: não, não é só o preço!
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Saúde! |
Vai muuuitooo além das cifras! As cervejas produzidas artesanalmente, em regra, seguem a famosa Lei da Pureza, de 1516. O nome é pomposo mas os preceitos são bem básicos. Seguir esta cartilha significa produzir cerveja livre de aditivos e conservantes artificiais, elaborada apenas com água, malte e lúpulo (as leveduras, que hoje também são usadas no processo, não eram conhecidas na época).
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Visitando a cozinha da Hagen (do meu pai, o cervejeiro Sérgio Adaid): malte de primeira qualidade! |
E é o que a Cervejaria Brücke faz! Atualmente com três tipos da bebida à venda no mercado mineiro, a cervejeira Fabiana Bontempo é sinônimo de qualidade. Credibilidade que contribui para expandir esse universo cada vez mais feminino!
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Foto: Cervejaria Brücke / divulgação |
Dica da Cozinheira: as mulheres (e até mesmo homens) que não apreciam a bebida é porque ainda não tiveram a oportunidade de provar a cerveja certa. Então, não perca tempo e aproveite porque que hoje é dia de brinde! À todas nós, cozinheiras de preparações líquidas ou sólidas, saúde! Sempre!
Foto da Capa: Vitor Schwaner / Experimente.
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