Ontem assisti, pela décima vez, ao filme "O Tempero da Vida". O longa do cineasta turco Tassos Boulmetis há tempos faz parte da minha coleção de filmes gastronômicos e, vira e mexe, eu o vejo novamente.
Resumindo, o filme retrata as lembranças do bem sucedido professor de astrofísica da Universidade de Atenas, Fanis Iakovidis (Markos Osse). Aos 45 anos, o grego que teve uma infância feliz em Istambul, marcada pelos ensinamentos do seu avô, agora vive na Grécia.
Longe de suas raízes, a notícia da doença do patriarca da família obriga Fanis a retornar à capital da Turquia. E o roteiro se desenvolve como um grande flashback, no qual o renomado professor relembra a sua infância e adolescência.
Pra falar a verdade, quando foi lançado, lá em 2003, a produção greco-turca chamou a minha atenção pela frase em seu cartaz de divulgação. "Canela, doce e ardente como toda mulher; Pimenta, picante e ardida como o sol; Sal, utilizado para dar mais sabor à vida".
Como resistir a esse chamariz? De cara me interessei pela história do garoto sonhador e suas memórias gastronômicas, lembranças de quando o seu avô, o turco Vasilis (Tassos Bandis), que era dono de uma loja de especiarias, o ensinava sobre astronomia, amor e relações humanas a partir da magia dos temperos.
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Triste e emocionante: deixar para trás o primeiro amor... |
De fato, o filme não é uma simples história de amor. O que se apresenta ao espectador é muito mais que isso. A estreita ligação entre lembranças, cheiros e sabores são o verdadeiro enredo.
Uma trama que tem como cenário um recorte de tempo e espaço importante na história mundial, já que o protagonista, enquanto criança, por conta do conflito político entre Turquia e Grécia no início dos anos 1960, é deportado de Istambul, juntamente com outros 30 mil turcos de origem grega.
E é aí que a gastronomia entra na história. Expulsas da Turquia e tratadas como estrangeiros em seu país de origem, as famílias deportadas se esforçam para manter suas tradições turcas, especialmente na culinária e, em vez de apontar as diferenças, através da cozinha o filme mostra as semelhanças das duas culturas.
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O avô de Fanis em sua loja de temperos... |
No filme, o experiente vendedor de condimentos ressalta, ainda, que receitas certas ou erradas podem influenciar para o bem ou para o mal o humor e as relações entre as pessoas. E, com essas lembranças em mente, Fanis, já na capital grega, cresce com a vontade de cozinhar ao lado das mulheres de sua família, mas é repreendido pelos próprios pais, que consideram a cozinha um território exclusivamente feminino.
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Arte que une pessoas e reforça raízes. |
Sem falar que o trabalho de fotografia de Takis Zervoulakos realça ainda mais a beleza exótica da culinária grega. Uma lição de vida, principalmente para um cozinheiro. Porque sim, os alimentos tem o poder de despertar muito mais do que o paladar e, por isso, precisam ser manipulados com respeito.
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A vontade de cozinhar de Fanis é algo inspirador! |
Afinal, este é o grande barato de se ver algo interessante: pensar sobre o tema.
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Obrigado a morar na Grécia, Fanis sente falta de sua vida de Istambul. |
Aliás Michael Pollan, em seu livro "Cozinhar: uma história natural da transformação" diz que o a melhor explicação que diferencia o animal do homem é que este último cozinha o seu alimento.
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Fanis observa, atento, as receitas de família. |
Foto da Capa: dollarphotoclub.com
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